- O rei da Tailândia Bhumibol Adulyadej (http://www.soravij.com)
“Na Tailândia, há anos atrás, o Rei Bhumibol Adulyadej definiu como máxima a ideia da Economia da Suficiência, lema que se veio a estender mundialmente com as recentes perspectivas de sustentabilidade, também reforçadas pelo movimento das alterações climáticas. A “economia da suficiência” destaca a importância dos bens não materiais para a vida e felicidade das pessoas.”
> como escrevia Agostinho da Silva na sua passagem pelo Brasil, no Estado de Santa Catarina, “só depois de encher a barriga há tempo para filosofar”. Num texto que escrevemos no ano passado para a revista Nova Águia também defendíamos a “economia da cultura”, como uma forma de alavancar um crescimento económico em valores bem mais perenes e significativos que a mera produção de “coisas”, eternamente substituíveis a cada nova moda ou fase de Design que deveriam ser substituídos pela produção descentralizada, democratizada e livre, se bens culturais. As estimativas de que 17% da riqueza gerada em Portugal está diretamente ligada à língua demonstram a importância da Cultura para uma economia moderna e o notável valor de 50% de peso do setor cultural na economia da cidade de Nova Iorque mostra o quanto podemos crescer a partir do patamar atual. Num mundo de escassez crescente de matérias primas, de necessidade imperiosa de redução dos consumos de energia e de emissão de CO2, há que desviar as prioridades da Economia da Produção de Bens e Serviços redundantes e frequentemente inúteis e modistas para a felicidade e para a satisfação de todas as necessidades básicas dos cidadãos. Não se trataria assim de “tercializar” a Economia para a Cultura, mas de a transmutar numa Economia da Cultura, em que a prioridade seria dada à satisfação local de todas as necessidades básicas, especialmente as alimentares e energéticas.
“Claro que o dinheiro e os bens materiais são importantes. Mas o seu valor marginal decresce à medida que este aumenta, e a partir de certo momento são outros aspectos da nossa vida – família, comunidade, realização profissional, etc – que fazem a diferença e nos ajudam a viver mais felizes.”
> Um dos grandes desequilíbrios da sociedade de consumo foi esta ligação doentia que os Media, a Cultura de Massas e o Consumo quantidades crescentes de Bens Materiais com a Felicidade e a Realização pessoal que estiveram na base de uma autentica esquizofrenia coletiva que hoje carateriza as sociedade da atualidade. Ligar Consumo a Realização é doentio, porque nunca ninguém poderá ser feliz se se reduzir à mera condição de consumidor passivo, dócil e se cercear as suas capacidades cívicas, a sua consciência e liberdades individuais para se tornar num carneiro, num ponto anónimo numa manada sabiamente manuseada pelos poderosos aparelhos de marketing das grandes multinacionais. Ser Livre é assim ser Consumidor consciente e independente da pressão e das manipulações psicológicas das máquinas da publicidade e do marketing.
“Paradoxalmente, é essa ênfase nos aspectos nas materiais da vida das pessoas que tem possibilitado o crescimento económico sustentável em países como a Tailândia, o Butão ou o Vietname. É o contrário do que temos constatado recentemente no Ocidente.”
> Os modelos de crescimento económico clássicos levaram o mundo à profunda e duradoura crise onde ele se encontra hoje. A prioridade absoluta dada ao mundo financeiro sobre o resto da economia (que absorveu os melhores cérebros em atividades não produtivas) esvaziou de investimentos em investigação, modernização e na melhoria da produção industrial e agrícola. Os detentores de Capital preferiram colocar os seus recursos no meio financeiro (que lhe garantia grandes retornos a curto prazo) do que na economia real. Em consequência, muitas empresas descapitalizaram-se e endividaram-se acima de qualquer razoabilidade. Em vez de tentar seguir Londres e Nova Iorque, o Ocidente devia olhar para Oriente e aprender com as experiências das economias budistas da Tailândia e do Butão, onde o crescimento dos índices GINI, uma medida de felicidade a partir da ponderação de vários fatores apresenta hoje uma medida muito mais fiável sobre o grau de felicidade de um povo que o estafado e batido “crescimento do PIB” ainda hoje preferido pela maioria dos economistas convencionais.
Fonte:
Miguel Pereira Lopes
Jornal Sol 23 de dezembro de 2010
Comentários Recentes