(Instalação no Brasil de rede de gasodutos in http://www.camposgeraisemais.com.br)
“A produção de gás natural da Europa deverá atingir o seu ponto de viragem este ano. Para muitos analistas é um primeiro sinal de mais um choque energético no futuro. Por ora, menos mediático que o petrolífero.”
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“A situação começa a ser preocupante em 2015, o que já não está muito distante. Segundo um estudo da AT Kearney, as importações entre 2005 e 2020 vão crescer quase 100%, enquanto que a produção europeia cairá 43%. Ou seja, em quinze anos, de um lado da balança temos uma duplicação, e do outro quase uma quebra para metade!”
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“A Rússia exporta apenas 1/3 da sua produção, e o principal destinatário é a Europa. Os seus principais campos de produção na Sibéria estão em declínio, pelo que os analistas duvidam que a Rússia possa “salvar” a Europa, tanto mais que o seu próprio consumo interno está a aumentar, num ambiente geral de ineficiência energética.”
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“As importações de gás pela Rússia aumentaram mais de 200%.”
Jorge Nascimento Rodrigues
Expresso, 5 de Janeiro de 2008
Ou seja, o gás natural, tido por muitos como a grande salvaguarda para quando a partir de 2010-2030 o petróleo começar a entrar em força na sua curva descendente (já adivinhada hoje), não pode sequer ser considerado como alternativa ao petróleo, porque ele próprio está também a entrar em Pico de produção! E nem a Rússia, que no petróleo é também a grande salvaguarda para o declínio da produção (juntamente com a mítica “capacidade de reserva” saudita) poderá acudir já que o seu consumo interno está em ascendente – fruto da melhoria sensível das condições de vida, e logo, dos padrões de consumo – e que ela própria está a começar a importar gás natural do estrangeiro.
E o problema não é apenas europeu, já que o consumo mundial cresce a um ritmo de 5% ao ano (comparativamente o consumo de petróleo cresce a “apenas” 2,25%/ano). Uma das soluções para este esgotamento iminente poderia ser reduzir o desperdício de cerca de 9% na produção e no processo de transporte da produção, um problema especialmente agudo na Federação Russa… Ainda que as reservas russas possam ascender ou não (é uma questão polémica a 30% do total das reservas mundiais de gás) este é um valor impressionante… a verdade é que ao ritmo a que o consumo interno russo sobe cada vez haverá menos gás natural disponível para exportação. Será então persistir nesta crença absurda da infinitude do gás russo e fazer depender a política energética das grandes nações europeias desta fonte? Portugal também tem os seus problemas… O nosso gás vem da Argélia, não da Rússia, mas este é um dos países mais instáveis do Norte de África… A rede de gasodutos é extensa e pode ser sabotada em muitos sítios semidesérticos e a… Al Qaeda parece ter transformado o norte de África na sua nova frente de combate contra os “Cruzados”… As reservas argelinas são as oitavas do mundo e este país é hoje o quarto maior exportador mundial, o que dá segurança a Portugal no contexto da escolha estratégica feita a partir de 1997, tornando o Gás Natural a segunda fonte de energia primária, cujo aumento de importação tem efectivamente satisfeito quase totalmente o aumento de consumo verificado desde 1997. Mas o aumento do preço do Gás desde 2000 está a afectar ainda mais a competitividade da economia portuguesa, ao aumentar os seus custos de produção.
A própria ligação – cada vez mais forte – entre os preços do petróleo e os do gás natural (tradicionalmente indexados) implica que o gás natural não poderá ser nunca uma verdadeira alternativa ao petróleo.
Embora este aumento dos preços do gás natural e do petróleo possam ter apenas uma faceta negativa, na verdade não é assim!
1. O aumento destes preços cria condições para a necessária redução de consumos (Portugal, por exemplo, aumentos em mais de 260% o consumo energético entre 1995 e 2004, quando o PIB cresceu nesse período apenas uma fracção desse valor)
2. Criar condições para o aumento da eficiência energética. Um grande problema português, especialmente no consumo doméstico, e no grande produtor de gás russo… que além de grande produtor é também o campeão mundial da ineficiência energética.
3. O aumento dos preços dos combustíveis sólidos propicia também a que as energias alternativas, mais limpas e com menor impacto para o Aquecimento Global sejam mais rentáveis que as energias convencionais. O preço por Watt dos painéis solares da nanosolar, por exemplo, já é inferior ao preço de produção de electricidade por queima de carvão, por exemplo…
4. Os preços elevados facilitarão assim a transição para um novo paradigma energética: com padrões de maior eficiência, maior ecologia e menor dependência de alguns dos pontos mais instáveis do globo (Golfo do México com um crescente número de furacões e Médio Oriente com o rastilho do islamismo militante).
5. Os preços elevados vão a prazo reduzir as importações de produtos petrolíferos da Rússia e do Médio Oriente e, logo, estancar o aumento da despesa militar russa e dos países do Médio Oriente.
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