“Há 25 anos, o PIB por habitante na Irlanda era apenas ligeiramente superior ao português. Com um fraco crescimento económico, 17% da população ativa encontrava-se no desemprego, originando forte emigração. E as contas do Estado estavam descontroladas.
Tudo mudou a partir de 1987. Os irlandeses tornaram-se os segundos mais ricos da UE per capita cerca do triplo do nosso. O milagre económico irlandês foi entre nós seguido com atenção.”
> sendo o exemplo irlandês o melhor exemplo de que nenhum país está condenado à estagnação ou ao subdesenvolvimento. A História muda e com ela muda a economia. Não há crises definitivas (o próprio conceito de “crise” pressupõe um fator cíclico) e Portugal, como a Irlanda, não estará sempre em crise. Resta saber como e quando sairemos da presente situação.
“O novo primeiro-ministro da Irlanda, Enda Kenny, eleito há uma semana, pretende renegociar o auxílio do fundo europeu e do FMI sobretudo as altas taxas de juro com que o dinheiro foi concedido em novembro (5.8%). A Alemanha opõe-se. Também a Grécia quer alargar os prazos de reembolso dessa “ajuda”. (…) “A intervenção externa não tranquilizou os mercados. Aprofundou a recessão na Grécia e na Irlanda, tornando problemático o reequilíbrio das contas públicas. Por isso, cada vez mais gente considera inevitável a reestruturação da dívida grega e provável a da dívida irlandesa – e da portuguesa.”
> as taxas cobradas pelo FEEF/FMI são perfeitamente absurdas para um fundo dito “de resgate”. A taxa – depois de muita pressão _ acabou por descer, mas continua acima do razoável e o recurso ao fundo europeu não contribuiu em nada para fazer descer as taxas de juro, conforme se prova observando as taxas a que os mercados cobram à Irlanda e à Grécia. A solução não passa por “fundos de resgate” que cobram juros a preços de mercado. Passa por uma reestruturação da dívida e do tecido económico que permita que a muito curto prazo cessem todos os novos pedidos de empréstimo e se comecem a pagar os empréstimos antigos.
“O problema da economia portuguesa é diferente do que afeta a Irlanda. Ao contrário desta, Portugal perdeu competitividade numa era de globalização. Há dez anos que crescemos muito pouco, mas os portugueses (Estado, empresas, famílias) não reduziram os seus gastos. Assim, há mais de uma década que pedimos emprestado ao estrangeiro para manter um nível de gastos 10% acima do que produzimos.”
> Todos temos que começar a gastar menos e a ganhar menos. Mas é aqui que reside o verdadeiro busílis da questão: como fazer com que a redução do nível de vida alcance somente os comportamentos de luxo e – sobretudo – se reparta irmanamente por todos os estratos sociais? É relativamente fácil reduzir ordenados de funcionários públicos e de pensionistas (assim haja vontade), mas é mais difícil fazê-lo no setor privado e, ainda mais, fazer com que tal ocorra também entre os ricos. Urge então assim reforçar os mecanismos de fiscalização sobre rendimentos, ter especial atenção às expressões públicas de riqueza e ter cuidado para não afetar de forma demasiado intensa os serviços essenciais que o Estado presta na área da Saúde e da Educação.
“Na Irlanda, a raíz da crise foi outra. Na euforia de uma riqueza a que não estavam habituados, os irlandeses abusaram do crédito bancário concedido irresponsavelmente, provocando subidas vertiginosas no preço da habitação e dos terrenos”.
> os irlandeses cometeram o erro de resgatar os seus bancos quando deviam tê-los deixado falir, devolvendo os depósitos aos seus cidadãos e abrindo novos bancos – estatais – com o património material dos bancos falidos. A vantagem do problema irlandês está em que uma vez os bancos saneados, a economia tem condições para regressar à situação anterior. Vantagem que não tem Portugal, já que embora tenha bancos mais saudáveis que os irlandeses, não tem a economia próspera, dinâmica e produtiva que tem a Irlanda…
“um dos fatores do descalabro foi a promiscuidade entre políticos e negócios (imobiliário e construção, principalmente). A corrupção e o clientelismo têm afetado a vida política da Irlanda”
> em Portugal essa promiscuidade também se verificou, especialmente no meio autárquico…
Francisco Sarsfield Cabral
Sol 4 de março de 2011
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