Na Índia – nada mais, nada menos, que a maior democracia do mundo – corre lesto o debate de como tornar mais democrático e aberto o regime.
Em particular, levantam-se vozes sobre referendos através de mensagens SMS, revogação de mandatos de representantes eleitos e a adição nos boletins de voto de uma opção para “nenhuma das alternativas cima listadas”, entre outras estão na agenda do debate político local.
Este debate, na direção de um caráter Participativo reforçado na democracia indiana corre ao lado de outro que a critica e que a responsabiliza pela persistência de largas centenas de milhões de indianos na miséria e fome mais abjetas. Acusam estes críticos (não sem razão), que a democracia na Índia, pouco fez para resolver as enormes assimetrias que caraterizam desde sempre a sociedade indiana e que a corrupção na classe política está cada vez mais disseminada.
Esta crise da democracia indiana pode levar a dois tipos de evoluções: ou o sistema se cristaliza numa democracia formal na aparência, mas de raiz autoritária e populista ou, ocorre uma evolução na direção de um regime mais participativo ou aberto. Um sinal de que a segunda opção não pode ser descartada é a força do movimento indiano contra a corrupção que levou à aparição de um novo partido político, o partido Aam Aadmi (ou “partido do Homem comum”) que logrou alcançar um desempenho surpreendente nas últimas eleições no estado de Nova Dehli. O novo partido assume uma ruptura com o sistema porque não depende de nenhum financiador e não representa nenhuma casta, raça ou religião e está a conseguir reunir muitos indianos que até agora se encontravam afastados da política e dos “grandes” partidos indianos.
Saído vencedor das eleições, o AAP não aceitou formar governo sem antes lançar um referendo por SMS em que questionava os cidadãos sobre se deveria, ou não, formar governo. Assumida essa função, começou a cumprir o seu programa, nomeadamente as suas promessas eleitorais quanto aos custos de água e eletricidade. Estas medidas foram recebidas com grandes reservas por parte da oposição, que acusa o novo partido de irresponsabilidade fiscal. Foi também acusado de promover o caos nas ruas devido a manifestacoes dos seus apoiantes. A forma como o AAP gere a polícia local também tem estado sob fogo: detenções ilegais e um apelo por parte do governo do AAP para que os polícias despissem as suas fardas e se juntassem às manifestações anti-corrupção foi muito criticado nos media indianos.
Internamente, o AAP também está a ter dificuldades na implementacao da promessa de “democracia interna”. Alguns militantes criticam a falta de atenção da direção do partido aos críticos internos. Esta contestacao interna é mais intensa do que nos “partidos normais” indianos porque apenas uma pequena minoria dos militantes do AAP são políticos profissionais, sendo a sua esmagadora maioria formada por cidadãos “comuns”, e que logo, não dependem do partido para cargos, funções ou empregos, como sucede normalmente com os políticos profissionais. Por exemplo, a opção do governo para bloquear a entrada de capital estrangeiro no setor do retalho foi alvo de muita contestacao interna. Externamente, e porque o discurso do AAP considera que todos os partidos representativos são inerentemente corruptos, as opções de formar coligações são muito remotas.
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