A Irlanda tem hoje a triste honra de ser o país com a rácio de PIB / Dívida Externa mais alta do mundo: 1100%. Não é assim uma surpresa mortal vir a saber que um em cada três irlandeses está prestes a perder a casa onde vive devido à incapacidade de honrar a dívida…
A situação não produziu ainda devoluções massivas de casas à banca, porque o mercado imobiliário irlandês está completamente saturado por décadas de construção desregrada e simplesmente, os Bancos preferem não recuperar casas que depois, não conseguiriam vender a ninguém. Portugal tem tradicionalmente níveis de incumprimento muito baixos e apesar do agravamento do desemprego, os números portugueses continuam baixos… Contudo, entre nós, a construção civil nunca chegou aos níveis absurdos da Irlanda ou de Espanha, pelo que o mercado imobiliário não se encontra tão saturado… a situação não é assim diretamente comparável, mas pode prenunciar o estado em que estaremos daqui a um ano, o período de tempo que a Irlanda nos leva de vantagem nesta atual “crise das dívidas soberanas”…
Se Portugal saísse do Euro isso seria efetivamente um “drama” para Portugal e para a nossa economia? Não há duvida de que ao ser uma das moedas mais fortes do mundo o euro permite importar a baixos preços e esse facto está na direta razão da galopante dívida externa portuguesa e dos crónicos défices comerciais lusos. A força cambial do euro é assim uma das fontes para as presentes dificuldades de Portugal.
O facto de Portugal usar uma das mais fortes moedas do mundo e de ter um tecido empresarial pouco competitivo, problemas de competitividade, inovação e produtividade significa que as nossas empresas são obrigadas a competir num mercado global cada vez mais desregulado e onde os nossos adversários não hesitam em recorrer à arma cambial (como no caso do muito desvalorizado yuan, a moeda chinesa) provocando a avalanche de falências e o crescendo de desemprego atual.
Se não estivéssemos colados ao euro poderíamos responder de forma rápida à crise económica, alterando o valor cambial da moeda própria que já não temos e ajustando de forma mais adequada a nossa situação periférica e as dificuldades estruturais da nossa economia aos desafios da Globalização.
Em teoria, a pertença a um espaço económico comum, delimitado pela moeda comum, deveria ser correspondida por uma rede de solidariedade capaz de compensar as economias mais fracas pelas desvantagens da integração monetária. As hesitações, a lentidão da reação e a fraqueza da mesma demonstraram que esta Europa não tem a devida solidariedade. Perante um ataque avassalador e concertado dos Especuladores (e das agências de Rating) os países do euro não se souberam juntar em torno dos seus membros mais fracos e – bem pelo contrário – deixaram quase cair a Grécia, Irlanda, a Itália e Portugal.
Portugal tem agora uma moeda exageradamente forte, de cujo controlo prescindiu quando aderiu (graça a algumas “engenharias financeiras)… Em troca, prometeram-nos que a solidariedade europeia haveria de compensar esta perda de independência, em caso de necessidade. Ora, o que sucedeu à Grécia, as longas hesitações alemãs e uma pífia liderança barrosiana provaram-nos que esta troca foi falsa: que a Europa não só não é solidária, como não nos ajudará se precisarmos.
Perante este fracasso rotundo e aparentemente insanável da Europa só resta a Portugal uma saída: deixar o euro e recuperar a sua independência monetária.
“Apesar de Jean-Claude Trichet ter, nas suas últimas intervenções, dado a entender que o BCE quer evitar, depois de três cortes de taxas de juro consecutivas, a continuação de uma descida tão rápida do preço do dinheiro, os indicadores poderão obrigar o banco central a atuar mais cedo.”
Ou seja, o presidente do BCE não quer descer a taxa de juro. As circunstancias – esmagadoras pela sua evidencia – talvez o levem a desviar mais alguns milímetros da sua sacrossanta deriva dogmática e de uma defesa canina da inflação. Mas é apenas isso. Cego pelos dogmas do neoliberalismo o francês deixou que a Europa mergulhasse na recessão quando em meados do ano passado, já os EUA estavam a descer as suas taxas de juro violentamente e o BCE as mantinha em valores exageradamente altos. O erro de então não as ter descido terá agravado o risco de recessão na Europa e a Historia ainda há de cobrar ao Francês a ineptitude desta inacção.
“Por um lado, a variação homologa do credito concedido ao sector privado na Zona Euro voltou a abrandar em novembro, passando de 7,8 para 7,1, a 11a descida consecutiva. Isto mostra que as famílias e as empresas estão a sentir crescentes dificuldades em obter empréstimos.”
Isto quer dizer que apesar de massivas injecções de capitais públicos, da entrada do Estado em muitos dos maiores bancos do continente estes continuam a não colocar nos cidadãos e nas empresas os essenciais capitais. O dinheiro existe e sempre existiu, mas continua a ser dedicado maioritariamente a grandes operações especulativas de muito curto prazo nalgumas das maiores Bolsas mundiais…
“A taxa de inflação homóloga na Alemanha passou de 1,4 para 1,1 por cento em dezembro, mostrando que as pressões inflacionistas deixaram de ser, para já, um problema.”
E sendo a Alemanha a maior economia europeia, este movimento descendente da inflação será propagado por toda a economia da União Europeia. O ritmo da inflação, a escassez de dinheiro, a relutância da Banca em conceder empréstimos aos particulares e empresas apesar de todas as múltiplas injecções de capitais públicos, mas sobretudo a retração do Emprego, as falências e reduções de pessoal e até as novas dificuldades sentidas por muitas empresas de retalho que se batem inutilmente contra a quebra de confiança dos consumidores e contra a redução do consumo privado provocado pela multiplicação do número de desempregados. Todos estes factores contribuem para a descida da inflação, lideradas pela descida dos preços do petróleo. Estamos assim perante a seria possibilidade de deflação na Europa. E é preciso saber que deflação em período recessivo é a pior combinação concebível… Garantia certa de pelo menos dez anos de depressão e confirmação plena de que estamos perante a maior e mais profunda crise económica das nossas vidas.
O Irão, país que é atualmente o segundo maior produtor de petróleo da OPEP, já não está a fazer transacções comerciais em dólares, cumprindo assim uma promessa já antiga do seu presidente… A decisão resulta de um aumento de pressão da diplomacia dos EUA contra o programa nuclear iraniano, mas também devido à continuada redução da cotação dólar-euro e ao seu impacto nos rendimentos da República Islâmica. O movimento de transição para o Euro e outras moedas já tinha começado no começo de 2007. Para a Europa, o Irão vende petróleo em euros, e um misto de euros e ienes são usados nas exportações para os países asiáticos.
O Irão está a pressionar os outros países da OPEP a segui-lo, mas, por enquanto sem grande sucesso, sobretudo por causa da influência que os EUA ainda detêm nas políticas dos governos dos países do Golfo Pérsico, mas não tardará muito até que a Venezuela siga os seus passos e depois, a massa crítica poderá ser suficiente para levar os demais países da OPEP a enveredar pelo mesmo caminho, especialmente se a fraqueza do dólar persistir, e nada indica que assim não seja, uma vez que a maioria dos economistas dão como certo o prolongamento da recessão nos EUA pelo menos até finais de 2009… E se o dólar continuar a ser a moeda preferida nas transacções de petróleo, até os países importadores vão começar a pressionar para o seu abandono. É claro, que a perda do papel de referência do dólar no mercado global vai implicar uma profunda ameaça à própria economia americana, que muito tem vivido da predominância da sua moeda no mundo, e logo, criar ainda mais condições para que esta recessão que dizem ainda ser ligeira, se torne efetivamente numa das mais graves de sempre na Economia americana. Sabendo como esta responde por 30% do consumo mundial, isso não irá arrastar todo o planeta para a recessão, mesmo a Ásia e a Europa que têm estado relativamente afastadas desta?
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