O filme Prometheus do realizador Ridley Scott e escrito por Jon Spaihts e o produtor de “Lost”, Damon Lindelof é, sem dúvida, um dos acontecimentos cinematográficos do ano. Bom ou mau, é algo que veremos depois dos comentários que aqui deixarei nas próximas linhas…
1. A nave Prometheus é enviada para o Espaço, até a um Sistema Solar identificado através de testemunhos arqueológicos em todo o mundo e com cerca de trinta mil anos por uma mega corporação, a Weyland Corporation: Neste mundo do futuro, as corporações e multinacionais parecem deter muito mais meios e recursos que os governos… no filme, o governo (presume-se que o norte-americano) não aparece, de todo, não regula a expedição, nao a organizou nem monitorizou. A ideia é realista… tendo em conta o seu crescente poder e o enfraquecimento dos Estados que torna o mundo de hoje numa espécie de gigantesca corporotocracia.
2. Todo o enredo parte do princípio de que o desenho de uma constelação presente na arte de varias culturas passadas serviu de argumento único para a organização de uma dispendiosas expedição interestelar. Parece pouco convincente… por muito uni-pessoal que fosse a decisão de um dono de uma gigantesca mega-empresa, seria sempre difícil justificar tal opção perante um conselho de administração, por muito dócil que este fosse, na base de argumentos tão escassos…
3. A tese segundo a qual o ser humano é o produto de um processo de “engenharia genética” é de alguma forma apelativa, já que não existam dúvidas na comunidade científica quanto ao valor da teoria da Evolução de Darwin (o que aliás é recordado pelo biólogo da expedição), a verdade é que os testemunhos fósseis indicam que esta se processou através de grandes saltos, de grandes modificações morfológicas e não pelos pequenos passos que a teoria clássica sugere. A teoria imanente no filme será a de que estes “grandes saltos” foram o produto de engenharia genética extra-terrestre… mas assim, os “engenheiros” teriam que ter visitado a Terra várias vezes, e não apenas à 25 mil anos… fica também por explicar porque não repetiram a viagem posteriormente, se consideravam a nossa destruição uma prioridade assim tão importante.
4. Prometheus é de facto, “Alien 5”… foi assim que o projeto começou a ser desenvolvido em 2000, na forma de uma prequela para o primeiro Alien (de 1979). Em 2003, foi adiado pelo avanço do “Alien vs Predator”, sendo recuperado em 2009 num argumento que era muito mais próximo da série “Alien” que aquele que haveria finalmente por ser produzido, a partir de abril de 2010. Na verdade, preferia que não fosse assim… é como se vivêssemos numa espécie de anos finais do Baixo Império Romano em que já não se fazia mais do que imitar a arte e as realizações culturais do século passado, sem espaço para a imaginação e inovação. Será impossível produzir hoje um novo Alien, Star Trek, Star Wars e estaremos condenados a ver apenas prequelas, sequelas e afins?…
5. De notar que a Fox aceitou um argumento revisto por Lindelof não só porque a estimativa de custos era inferior (de 250 milhões de USDs para 150) mas também porque “o produto final era menos adulto”… presumo em cenas de sexo, já que cenas de “soft terror” há q.b…. como aquela operação feita ao vivo, por exemplo…
6. O filme foi rodado em Inglaterra, Islândia (o vulcão no meio do gelo), Espanha (?) e Escócia (a primeira cena)… a boa notícia é que tendo sido gravado em 3D, é possível vê-lo sem essa tecnologia na maioria das salas de cinema. Curiosamente, as cenas na garagem da Prometheus foram gravadas nos “Pinewood Studios” de Inglaterra, onde também se filmavam os episódios da série Espaço 1999…
7. A primeira cena mostra um extra-terrestre na Terra, sacrificando-se para que o seu ADN modificado se espalhasse pela água e assim chegasse a uma forma de pré-humanóide (o Homo Erectus?). Ora, na verdade seria impossível a que uma frágil cadeia de ADN sobrevivesse sozinha, sem uma proteção dada por uma parede celular (bactéria ou vírus) em qualquer tipo de meio, quanto mais no aquático, como sugere o filme…
8. O android David segue demasiado de perto, nas cenas iniciais o percurso e atividades dos astronautas da Odissey, no clássico de Kubrick “2001”. Não é um plágio, mas é pelo menos um pastiche muito forte, um traço que de resto é comum a todo este filme: a falta de imaginação. Aliás, a “estásis” dos tripulantes é outro ponto comum aos dois filmes. A existência de uma “agenda secreta” de Meredith Vickers é outra semelhança demasiado próxima.
9. Não há qualquer referência ao efeito da distorção temporal provocado pelo Efeito da Relatividade numa nave viajando perto da Velocidade da Luz. Tudo decorre como que o tempo-Terra fosse sincrónico com o tempo-nave, o que obviamente seria impossível.
10. Os pontos de contacto com a saga Alien são numerosos, o que é normal (mas negativo) tendo em conta que se trata de um filme concebido para encaixar neste ciclo. Mas isto sacrifica a imprevisibilidade da ação. Pessoalmente, por exemplo, fiquei muito desiludido quando vi a sala cheia de “ovos” na Pirâmide. Via-se logo o que eram e o que iria sair deles….não seria possível ter imaginado uma forma diferente de contentor? Sim, claro. Se houvesse imaginação e não uma obsessão comercial e emular o sucesso dos outros filmes da saga. E os pontos comuns continuam: a gravidez indesejada de Shaw… a criatura no seu ventre… e, claro, o Alien no final, assumindo-se assim que este foi o produto de engenharia genética e uma “arma” criada para destruir a espécie humana. Tudo isto torna o filme demasiado previsível… numa entrevista, Lindelog assume aliás, isso mesmo: “If the ending to [Prometheus] is just going to be the room that John Hurt walks into that’s full of [alien] eggs [in Alien], there’s nothing interesting in that, because we know where it’s going to end. Good stories, you don’t know where they’re going to end.”
11. Se os “ovos” contêm uma arma biológica concebida para destruir a humanidade e se esta foi desenvolvida por uma civilização superior, então esta não foi capaz de conceber nada melhor que uma “sopa” que exige ser ingerida para ser letal?… nem um vírus que se dissemina por aerossol, uma bactéria de contacto, nada de minimamente eficaz, como o SIDA (de incubação lenta, logo eficaz) ou o Ébola (letal, mas demasiado rápido)?…
12. Não fica claro (pelo menos para mim), porque é que os “engenheiros” programaram na nave a viagem para a Terra e depois não a executaram… Podemos admitir que os outros 3 tripulantes morreram nos seus sarcófagos de hibernação por causa do “vírus” e que apenas o piloto saiu incólume, mas se assim foi, porque não estava ele na cadeira do comando (que aparece em Alien 1 e neste Prometheus)?
14. Não se percebe como é que o geólogo Fifield não morre da contaminação, mas sofre uma mutação (ele é atacado por um ácido segregado por uma criatura nativa, recordam-se?) e entra em “mutação”. A cena parece encaixada à pressa, apenas para aumentar o nível de tensão e estresse na história, mas não é consistente com o resto do enredo.
15. Posso presumir que David tem uma fonte de energia interna… teoricamente um gerador nuclear como o do Terminator. Mas como consegue continuar a funcionar e a emitir ondas de rádio (até à cápsula de resgate) sem essa fonte de energia?…
No global, o filme apresenta efeitos especiais muito competentes, um desenho de naves, ruínas alienígenas e fatos muito credíveis, mas tem uma história particularmente fraca, altamente previsível demasiado obcecada em deixar “pontas soltas” que venham a justificar uma nova sequela, algo que em junho de 2012, estava longe de estar garantido…
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