“o livro Maddie – A Verdade da Mentira”, de Gonçalo Amaral, o ex-inspetor da PJ que coordenou a investigação do caso Maddie, foi retirado das bancas por ordem de um tribunal, a pretexto de constituir um crime de difamação contra os McCann. Os bens do autor foram “congelados” para poderem cobrir uma eventual indemnização aos “ofendidos”.
(…)
“Durante o Estado Novo, era usual serem apreendidos a favor do Estado os bens – livros, discos e outros – pertença daqueles que, não concordando com as práticas políticas da época, se atreviam a escrevê-lo ou a dizê-lo alto.”
(…)
“A saber:
1. Porque é que, na noite de 3 de maio de 2007, quando a menina inglesa desapareceu – recorde-se que todas as noites dormia sozinha com dois irmãozitos mais novos, enquanto os pais jantavam com os amigos – os McCann, já acompanhados pela PJ, sentiram necessidade de estar também acompanhados pelas televisões inglesas, que chegaram logo na manha seguinte?
2. Por que é que, estando supostamente destroçados pelo desgosto maior que pode abater-se sobre uns pais, mas tendo o apoio das autoridades e da população do seu país e do país onde os factos ocorreram, nomearam imediatamente umas figuras grotescas que davam pelo nome de assessores de imprensa ou porta-vozes?
3. Porque é que o primeiro-ministro britânico Gordon Brown, não contente com o corretíssimo gesto de contactar as autoridades portuguesas pedindo-lhes especial atenção para o caso, cedeu o seu porta-voz do Governo para assumir as mesmas funções junto do casal McCann?
4. Por que é que processos de desaparecimento de crianças portuguesas nunca mereceram das autoridades um centésimo do investimento em meios humanos e materiais para lhes encontrar o rasto?”
Muito já se escreveu sobre o “caso Maddie”. Mas não suficientemente. E concerteza que ainda que não se ouviu ninguém com responsabilidades governativas, policiais ou judiciais explicar porque é no ano deste desaparecimento, a PJ torrou mais de metade de todo o seu orçamento NUM único desaparecimento, quando na mesma altura existiam dezenas de outros casos, envolvendo crianças portuguesas, mas que nunca mereceram das nossas polícias nem uma fração deste investimento em meios e tempo. O tradicional servilismo português perante os “superiores seres do norte” não explica tudo: houve aqui ordens dada pelo Governo de Londres ao Paço e houve seguidismo acéfalo em altos governantes lusos. Isso é evidente e desprestigia Portugal.
Gonçalo Amaral construiu a imagem mental que a maioria de nós tem do casal McCann: estiveram diretamente envolvidos no desaparecimento da sua filha. A sua tese segundo a qual os pais davam soporíferos aos filhos antes das suas lautas e prolongadas jantaradas diárias com os amigos e que uma sobredosagem terá dado a morte a Maddie é fácil de deduzir quando se conhece a frieza e o profissionalismo aparente com que lidaram com a perda da sua filha e o conhecimento clínico assim como a facilidade de acesso a medicamentos, dizem o resto… A tese que teriam morto acidentalmente a criança e depois ter feito desaparecer o cadáver (incinerando-o numa das várias incineradoras para animais existentes no Algarve) é assim a mais provável e aquela sugerida pelo livro do antigo inspetor, precisamente a pessoa que no mundo – além dos McCann – melhor conhece as circunstâncias do desaparecimento é essa. Obviamente, os McCann não poderiam ficar parados perante tal constatação: usando os recursos financeiros que souberam reunir no apogeu do caso, usaram os nossos classicamente ineptos e injustos tribunais para num exercício ao pior estilo dos tribunais do Antigo Regime proibirem o livro de Gonçalo do Amaral: assim silenciaram o ex-inspetor e a verdade do “caso Maddie”. Mas terá este dócil (aos ingleses) tribunal alterado aquilo que a esmagadora maioria de nós acredita que aconteceu com Madeleine McCann? Não, a menos que o Tribunal nos queira impedir de pensar. E isso ainda não podem os McCann mandar um tribunal fazer. Ainda.
Fonte:
Sol de 18 de dezembro de 2009
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