
Escadaria dos Planetas do Bom Jesus de Braga (http://marcio.avila.blog.uol.com.br)
A Escadaria foi concebida em 1722, mas so seria terminada na primeira parte do século XIX. Seguindo aparentemente uma gramática ortodoxa católica, o investigador José Ramos reconheceu nos variados e ricos elementos decorativos uma mensagem alquímica que iremos descrever nas próximas linhas seguindo sempre de perto a sua visão. Existem no Bom Jesus de Braga mais escadarias, como a “Escadaria dos Cinco Sentidos” e a “Escadaria das Virtudes”, mas o essencial da mensagem alquímica que algum Adepto quis aqui deixar em testemunho concentrasse de facto na Escadaria dos Planetas”:
1. A Fonte da Estrela de Oito Pontas
Na Alquimia, as estrelas são símbolos do Espírito e do seu confronto com a Matéria. Simbolizam assim a luta eterna entre a Luz e as Trevas, entre o Espírito e Matéria Bruta por transmutar que se encerra na Matéria Prima cuja identificação é o primeiro obstáculo que todo o Artista deve ultrapassar para alcançar o sucesso na Obra.
Especificamente, a Estrela de Oito Pontas representa a regeneração da matéria, elevando a sua pureza até ao seu estado mais amadurecido e desenvolvido por intermédio da Arte de Hermes.
A Estrela é também uma aparição no inicio de todas as fases da Obra e assume assim a função de um bom sinal, indicando que o operador se encontra no bom caminho para obter a Pedra.
2. O Umbral da Fonte do Sol e da Fonte da Lua
Estas duas fontes estão unidas por um arco de fecho. Uma fonte é a Fonte do Sol, a outra, a Fonte da Lua. Esta dualidade é uma alusão alegórica à dualidade da Matéria, cuja proporção distingue os metais uns dos outros e em cuja manipulação assenta o essencial da Arte de Hermes.
3. A Escadaria dos Planetas
A escadaria em linha quebrada que forma o aspeto arquitetónico mais importante de Bom Jesus de Braga é uma referência às ondas do Mar Primordial onde a matéria se encontrava mesclada, como exatamente se encontra na Matéria Prima que o Operador tem que identificar antes de se abalançar na Grande Obra.
4. Num dos primeiros lanços da Escadaria, encontramos a Fonte de Diana com a sua clássica aljava, flechas e arco. Diana é aqui um símbolo da Natureza e a sua grande guardiã. No contexto alquímico, é a Fonte de Diana é uma alusão ao “Banho de Diana”, uma das múltiplas alegorias à Matéria Prima na Alquimia, o objeto sobre o qual se exercer a Arte e cuja exata natureza é sempre laboriosamente escondida por todos os tratadistas. Ela é a quinta-essência o princípio e o fim de tudo.
5. A Fonte de Marte refere-se ao Enxofre, o principio masculino, ativo e fixo que se contrapõe ao mercúrio elementar, feminino, volátil e passivo.
6. De forma bem calculada nesta gramática alquímica do Bom Jesus de Braga encontramos de seguida a Fonte de Mercúrio. Mercúrio ou Hermes é o patrono da Alquimia mas é também aquele que liga os opostos (Diana/Feminino e Marte/Masculino), como demonstra o Caduceu que é o seu mais conhecido atributo. Ele é o “pai dos metais”, o “mercúrio dos filósofos” que na Arte se assume como o principal agente da transmutação metálica.
7. A Fonte de Saturno alude à fase da Obra conhecida como “Putrefação” e onde surge um deposito negro. Esta é a fase da “cabeça de corvo”, que precede o “leão verde” e que ocorre depois de a matéria estar quarenta dias no ovo.
8. Segue-se nos lanços desta escadaria a Fonte de Júpiter, o símbolo alquímico para a operação conhecida como “Multiplicatio” que antecede o “Albedo” ou “Purificação”. A “Multiplicatio” é a contaminação de uma parte purificada às outras, ainda impuras, até que por fim todas estejam puras, entrando-se assim no “Albedo”.
9. A Fonte da Serpente corresponde na simbologia alquímica à serpente coroada ou sal químico, o catalisador da união entre o enxofre e o mercúrio. O cálice para onde escorre a água desta fonte é o vaso ou matrás que alojará a poção da vida eterna, o Graal alquímico procurado pelo operador deste o momento em que se atreve a acometer a sua dura missão.
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