A Democracia está em Controlo Remoto
Os eleitores nacionais elegem representantes para cargos nacionais, mas, com a globalização comercial e financeira e a transferencia massiça das soberanias nestes campos a maioria das decisoes nao sao tomadas por estes politicos eleitos mas pelos “mercados” e por tecnocratas e banqueiros centrais ansiosos por agradarem aos primeiros.
O resultado é uma politica economica sobre-economizada e despolitizada e algos niveis de abstenção: para quê votar se que manda, de facto, nao sao os eleitos mas estas forças nao-democráticas?…
A Democracia dos 400
Estima-se que o poder “real” (económico e politico) esteja nas mãos de não mais de 400 famílias. São elas que estão do lado de lá da cada vez maior separação entre Governantes e Governados. São elas, também, que participam nas reuniões e negociações entre interesses públicos e privados, ora de um lado, ora do outro, alternando posições a cada ciclo politico e criando um espírito de grupo único que facilita as transições de um mundo para o outro e a renovação regular destas famílias com sangue novo oriundo das estrelas politicas do momento.
A Inflação da Abstenção
Na Primeira República a abstenção chegou a ser, em 1925, superior a 86%. Em 1975, com a instalação da “novidade” do regime democrático em que os cidadãos tinham a percepção (correcta) de que o seu voto contava e fazia a diferença, a abstenção foi de apenas 8.3%, mas desde então não parou de crescer a 3% a 8% a cada sufrágio até ao recorde máximo alcançado nas eleições de 2015 de 43.07%! A esta velocidade, a partir de meados da década de 2030, chegaremos aos números de 1925 e o sistema será então, simplesmente, insustentável.
Embora estes niveis de abstenção não estejam muito distantes das médias europeias, o seu crescimento não tem, praticamente, paralelo a nível europeu e revela uma doença profunda no sistema politico que os partidos politicos ainda não quiseram resolver (nomeadamente através de uma revisão profunda da lei eleitoral).
A Crise da Militância Partidária
Existem em Portugal cerca de 302 mil cidadãos inscritos, como militantes nos partidos políticos. A comparação com a totalidade da população coloca-nos na lista de pais (do sul da Europa) com menor taxas de militância do mundo desenvolvido (cerca de 2% da população).
A crise, como se disse mais acima, não é nacional, mas global. No Reino Unido, por exemplo, pais que registava das taxas mais altas de todo o globo e onde os Conservadores listavam na década de 1950 mais de 3 milhões de militantes, hoje, contabilizam pouco mais de 134 mil… Uma tal hecatombe teria colocado uma empresa comercial na insolvência, mas apesar disto, os partidos resistem, resistem…
O maior partido político português é, desde há bastante tempo, o PSD que conta, hoje em dia, com 118 mil militantes, mas em 2008 eram mais de 153 mil… E destes 118 mil apenas 53 mil têm as quotas em dia e, consequentemente, votam em eleições internas. O segundo maior partido político é o PS com 84 ml (eram 125 mil em 1982). O terceiro maior partido português é o PCP com, aproximadamente, 60 mil militantes dos quais 43% têm as quotas em dia. E isto num partido considerado (justamente) como o mais “militante” de todos os partidos portugueses… De notar, ainda que em 1983 o PCP tinha mais de 200 mil militantes e que, por regra (e salvo raras excepções) o militante comunista apenas deixa de o ser por… morte. Isto quer dizer que o partido não se renovou e que se está a evaporar a um ritmo ainda mais intenso que os outros partidos políticos portugueses.
Em termos de dimensão, quarto partido português é o CDS, com 30 mil militantes e cerca de 19 mil “activos” (não é claro, na terminologia dos Centristas se isso significa que são militantes com as quotas em dia).
A considerável distancia destes “grandes” partidos encontramos por fim o BE, que terá pouco mais de 10 mil militantes, dos quais 5200 mantêm as suas quotas em dia, numa percentagem que indicia uma maior taxa de actividade militante que advém da relativa juventude do partido e do quadro sociológico e demográfico deste partido.
Nao é facil obter números quanto aos restantes partidos, sobretudo aos que estao fora do Parlamento, mas estimamos que tenham entre 5 militantes activos a algumas dezenas a algumas centenas.
Estes numeros significam que, em média, menos de 50% dos militantes dos “grandes” partidos pagam as suas quotas e, logo, participam activamente nos actos eleitorais internos.
A cada três anos, nos processos internos de refiliação os partidos perdem, em média, metade dos seus militantes, provando assim que pelo menos metade destes eram produto de arrebanhamentos massivos ou de esquemas falsos de registo de novos militantes e que, simplesmente, muitos destes novos militantes se desiludiram com a realidade que encontraram nestes partidos.
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