Portugal padece de uma anormal distorção que o distingue da maioria dos países europeus (com maior base industrial e tecnológica): existe, na sociedade civil, uma estranha desvalorização das pessoas que provém do “mundo do trabalho”, isto é, que mantêm alguma atitividade profissional longe da Academia, do Ensino ou do Estado. E uma estranha (e doentia) sobrevalorização daqueles que ganham a vida dando aulas, sobretudo no meio universitário.
Pouco importa o que sabe, pensa e (quase sempre) a via nepótica com que se ascendeu à Cátedra, mas em Portugal, falar do alto de uma Cátedra é sinal, quase sempre, de que se será ouvido. E falar de baixo, de uma Profissão, será sinal, quase sempre, de que não se será ouvido. É assim nos Partidos, é assim nas associações e nos movimentos inorgânicos da sociedade civil. Pior: é assim, inclusivé, entre os Pares, entre aqueles que provêm também do mundo do trabalho que, quase sempre, desprezam a opinião e pensamento dos seus Pares para escutarem apenas a dos “Doutos”, dos “Doutores”, frequentemente ignorantes, quase sempre arrogantes, praticamente todos nepóticos, que lhes falam de cima para baixo, em tom professoral, académico e pleno de certezas absolutas.
Esta doença tem nome: chama-se “academite” e é a inflamação da importância da Academia em Portugal estando também na base imediata que explica boa parte do nosso atraso atávico: se chegámos onde chegámos foi porque – também – não tínhamos uma Elite à altura das circunstancias: uma elite forjada numa Academia boçal, servil ao Poder, financeiramente dependente do poder económico e partidário, arrogante com todos aqueles que por ela não são ungidos e quase estéril de pensamento original e de ligação à sociedade civil e às comunidades que – supostamente – devia dirigir.
Comentários Recentes