“Entre 1976 e 2006, os quatro principais partidos da nossa democracia, CDS-PP, PSD, PS e PCP, têm, no seu conjunto, obtido sempre cerca de 90% dos votos válidos. A excepção foi em 1985, com o PRD. São raros os sistemas partidários na Europa em que se verifique um tão grande monopólio de voto nos mesmos partidos nos últimos 30 anos.”
Alcidio Torres e Maria Amélia Antunes, O Regresso dos Partidos
Isto revela um enorme conservadorismo por parte do povo português. E é perfeitamente consistente com o facto de, historicamente, não terem havido revoluções ou revoltas populares de grande escala mas apenas golpes militares aos quais se juntaram – ou não – os populares.
Esta inclinação atávica para o imobilismo dificulta a aparição e desenvolvimento de novos partidos e não cria estímulos à reforma dos partidos tradicionais. Sem desafios o poder imperial e estático dos Aparelhos prevalece sobre lideres e alternativas internas de índole reformista. E como nem a abstenção nem os votos nulos têm expressão na bancada do Parlamento, nos partidos tradicionais convivem pacificamente com o crescimento constante e crónico da abstenção, já que isso não reduz (como devia) o numero de lugares que ocupam na Assembleia da República.
Este carácter tradicionalista e conservador do luso torna também extremamente improvável o sucesso da “via da rua” como forma de reformar o sistema democrático: as manifestações do 12 de março e do “Que se lixe a Troika” provaram que esses movimentos de indignados não tiveram (nem terão) condições para realizarem – como em Espanha com o Podemos – a transição para um alternativa politica organizada e credível.
Perante tal cerco à democracia, perante o seu quase total bloqueio e fechamento à sociedade civil e à cidadania, resta apenas uma via para a reforma do sistema. E essa via é a da invasão dos partidos pela cidadania independente, civicamente consciente e motivada para a reinvenção da democracia.
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