A palavra “corrupção”, num contexto politico ou económico-político, significa uma aberração a partir de um certo ideal de conduta ou acção politica. Isto significa que este ideal precede a noção de corrupção e que para compreender este fenómeno e o dissuadir e combater é preciso compreender o que é, ou deve ser, uma boa governação. E que quanto mais nítido e compreensível for este ideal, menos afastamento do mesmo haverá. Assim, e de uma forma algo paradoxal, para compreender o que é a corrupção, há que compreender bem o seu exato oposto, a Boa Governação…
A luta contra a corrupção não é um objetivo em si mesmo. Desde logo, porque não é um objetivo positivo, mas um alvo negativo, uma expressão de uma vontade, de uma aspiração, para um mundo melhor, livre de corrupção e fraude. Não é assim possível construir um programa de pensamento ou acção politica em torno de um objetivo negativo, porque, a dado ponto os seus proponentes haveriam de serem confrontados com a inevitável pergunta: “e agora?”… A luta contra a corrupção não pode ser um fim, é um meio para chegar a uma sociedade mais justa, mais distribuitiva, mais participada e mais democrática. Uma sociedade sem corrupção, é uma sociedade onde os cidadãos são mais participativos e atuantes, porque sabem que a sua intervenção é respeitada e tem eficácia, é uma sociedade onde predomina o império dos poderosos e dos ricos, onde as decisões são tomadas nas mais altas esferas e entre uma reduzida clique de privilegiados. É neste tipo de sociedades que se estão a transformar as democracias ocidentais, perdendo representatividade e qualidade democrática. De facto, este desvio torna as nossas sociedades cada vez mais plutocráticas e menos democráticas, numa involução que urge travar.
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