“Portugal vive uma crise financeira de curto prazo, uma crise económica de médio prazo e uma crise político-cultural de longo prazo.” (…) no plano político-cultural, trata-se de um défice histórico na formação das elites políticas, económicas e sociais causado por um ciclo colonial excessivamente longo.”
(…)
“A solução da crise financeira vai agravar a crise económica (impossibilidade de investimento e crescimento) e prolongar a crise político-cultural (a facilidade que as nossas elites tiveram enquanto elites colonizadoras reproduz-se agora na facilidade com que assumem o estatuto de elites colonizadas pela Europa desenvolvida.”
Boaventura de Sousa Santos
São estas três crises que, evoluindo como três rodas inclusas umas dentro das outras que conduzem o destino atual do nosso país. E todas estas rodas decorrem da crise político-cultural que precede todas as outras e que sendo de gravidade extrema carece de resolução urgente, antes de todas as outras. Ora é aqui que, precisamente, se observa uma inversão absoluta de prioridades: a crise financeira de curto prazo ocupou todo o espaço de intervenção política e todo o discurso e ação político-partidária.
A dissolução de valores éticos que se observa nos inúmeros (e impunes) casos de tráfico de influências, corrupção grosseira ou favorecimentos a Privados com dinheiros Públicos, fica assim esquecida e fora da atenção dos cidadãos e, sobretudo, dos agentes políticos. A falta de ética e de distinção dos mais básicos conceitos de Certo-errado, transparecem para toda a sociedade e assumem as mais diversas formas: as praxes violentas, as elevadas audiências do Futebol, o kitch, as trashtv, a abstenção elevada e os baixos índices de leitura expõem um país em profunda crise social.
Nem tudo está perdido, contudo. Aos momentos de crise, seguem-se sempre momentos de recuperação. E este país milenar não vai acabar amanhã. Perante os elevados níveis de desemprego, desespero social e desilusão frente ao Estado e à autoridade das instituições, o nível de conflitualidade social irá subir, e com ele a vontade de participação e o impulso para desequilibrar o torpe equilíbrio, ou Paz Podre, que hoje nos rege.
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