“Os políticos argumentam que só quando eles alcançarem o poder as decisões serão corretas, pelo que somos obrigados a suportar entediantes rondas de discussões políticas simplistas sobre problemas duradouros e profundamente enraizados, quando uma análise mais próxima desses problemas conduz à conclusão, bem mais perturbadora, de que nenhum político ou governo, por muito sábio, por muito acertado, será capaz de os resolver. Sabemo-lo de alguma forma. A frustração em relação à política convencional cresce por todo o lado, reduzindo a afluência às urnas e alimentando o descontentamento popular. Também os políticos sentem este estado de espírito, mas são incapazes de oferecer qualquer receita que não inclua mais das mesmas políticas, quiçá apimentadas por um populismo perigoso e oco.”
Carne Ross, A Revolução sem Líder
O mundo tradicional da política está a perder o controlo da realidade. Os elevados níveis de abstenção resultam aliás da constatação dessa evidência por parte de um número crescente de cidadãos: quando votar num ou noutro partido do “arco da governação” se traduz na mesma ação governativa – ditada a partir dos Mercados e do norte da europa – e que apenas no discurso eleitoralista e nas vãs promessas se notam diferenças (que se evaporam assim que que os partidos conquistam o poder) então estamos perante um sistema onde o voto perde qualquer eficácia.
O que se passa em Portugal, com violações sistemáticas das promessas eleitorais e com um seguidismo bacoco para com a Alemanha, não é, infelizmente, original. Fenómenos idênticos ocorrem em Espanha, Itália,Grécia e até em França, onde os cidadãos estão cada vez mais desiludidos com a “partidocracia do Poder” e não encontram alternativa na “partidocracia do protesto”, profissionais do protesto estéril e irrealista e que fogem das responsabilidades governativas como o diabo foge da cruz.
Os partidos já não são a solução da Democracia. São O problema: tornaram-se grupos de tráfico de influência e ninhos de corrupção sistemática e impune. São servos dos Grandes Interesses que comandam a nossa vida, em troca de financiamentos e de confortáveis nunciaturas nesse grande califado germano que nos rege. Estes partidos fecharam o sistema aos cidadãos, criando barreiras à sua participação e à renovação do sistema a partir do seu interior. De facto, é cada vez mais difícil (mas não impossível) vencer o seu sequestro da democracia, mas não é impossível e essa patente dificuldade não nos deve desencorajar: a alternativa é o enfraquecimento da democracia, deixando que ela se torne num simulacro de si mesmo, numa aparência de palco num artifício ilusório sem substância nem vida real.
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