Serge Julu
“O problema deste país é que a sua sociedade civil é passiva, amorfa, que o seu imaginário está atrofiado, e que precisa de choques para ir em frente.”
Serge July, diretor de Liberation em 1985 referindo-se ao seu país, França.
E bem que poderia referir-se também a Portugal: como se compreende que após a maior recessão das últimas décadas e de um desemprego galopante que se instala como crónico entre os jovens e os adultos com mais de 45 anos os cidadãos se mantenham imóveis e passivos?
Esta sociedade civil paralisada, composta por associações que atravessam um período de grandes dificuldades pela redução draconiana dos apoios públicos e pela compressão severa da disponibilidade financeira dos seus associados, não dá sinais de ser capaz de sacudir o jugo imposto pelos mercados e pelo norte da europa. Mas a crise tem uma potencial virtualidade: pelo extremar de posições que cria, pelo desespero que trás associado (erosão do Estado Social, desemprego crónico, fim de perspetivas de futuro, etc) pode levar os cidadãos a um ponto de fusão em que mudam do estado Passivo para o Ativo.
Este ponto de fusão não chegará em manifestações de rua que por mobilizadoras que sejam não mudam regimes nem fazem cair governos. Este ponto de fusão ocorrerá quando os cidadãos invadirem estes partidos políticos cristalizados e enfeudados a interesses obscuros, quando escolherem ter uma vida cívica e associativa viva e dinâmica e – estão mesmo aí – decidirem votar massivamente em movimentos independentes de cidadãos.
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