Miguel Esteves Cardoso
“Portugal é o país europeu com mais baixa taxa de natalidade e um dos três ou quatro piores do mundo (1.2 filhos por mulher, quando a taxa de reposição geracional é de 2.1). Se a isto somarmos a recente onda de emigração de jovens e pessoas na força da idade (muitos dos quais já não regressarão e não pagarão impostos nem contribuições sociais aqui), temos o retrato de uma tragédia social que já não é iminente porque já é actual.”
(…)
“Falta um milhão de jovens a entrar no mercado de trabalho e oito mil milhões de euros por ano para poder manter o Estado tal como ele existe agora – com as funções que tem, as responsabilidades que lhe foram atribuídas, os serviços que presta. Perante isto, há três atitudes possíveis.
A primeira é a da extrema-esquerda e do populismo demagógico, que resolvem o assunto com a simplicidade dos eternamente irresponsáveis: não existe problema algum, visto que a Constituição não consente que haja e não permite soluções: aumentam-se as pensões e os salários dos funcionários públicos; mantêm-se intocados todos os “direitos adquiridos” ou privilégios instalados tais como os dos magistrados e militares de viajarem em transportes públicos com 75% de desconto; denuncia-se o acordo com a troika e de duas uma: ou a Europa, mesmo assim, irá continuar a financiar-nos eternamente, ou o dinheiro sempre aparecera vindo de algum lado.”
(…)
“Começar por impor condições prévias: a renegociação do acordo com a troika, quanto aos prazos, juros e algumas das condições; a libertação de fundos que permitam o apoio do Estado ao relançamento da economia e o combate ao desemprego; a interrupção dos processos de privatização de empresas públicas viáveis e essenciais à soberania económica do país (e, já agora e por contraste, a exigência de que o Governo tenha a coragem de enfrentar sectores sócio-profissionais que se comportam como inimigos públicos, como sejam os dos estivadores ou os maquinistas da CP); um programa de cortes radicais e verticais na estrutura do Estado, e onde isso dói, ao PSD como ao PS: autarquias, fundações, institutos, direções e serviços regionais e o regabofe de Jardim.”
Miguel Esteves Cardoso
Expresso 10 novembro 2012
Apesar desta situação realmente dramática e potencial terminal para o país, a crise demográfica tem estado longe da agenda mediática e política. E o problema demográfico tende ainda ser mais agravado nos próximos anos, com o agravar da crise económica e da prioridade absoluta que está a ser dada aos Credores (muito por pressão desse duo maléfico que é o BCE e a CE) mais jovens partirão para o estrangeiro, depois de todos nos termos sacrificado para financiar as suas formações académicas e para trabalharem enriquecendo com as suas mais-valias os capitalistas germanos.
Portugal precisa de desatar esse novelo asfixiante de uma divida externa impagável: recusar o pagamento de juros especulativos, questionar a dívida imoral e organizar as despesas do Estado por forma a compatibiliza-las com as Receitas: reestruturar o Estado, aligeirando-o pela privatização de todas as PPPs impossíveis de pagar ou negociadas sob pressão ou corrupção, reduzindo severamente o pagamento de juros (que começa a ser maior do que o total das despesas com a Saúde) e preparando a saída ordeira de uma moeda europeia desenhada para servir os interesses alemães e não os dos países do sul.
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