Lisboa é cada vez mais uma cidade oca. Dos mais de 320 mil alojamentos existentes na cidade, apenas 84.4% estão ocupados, estando os restantes vazios. As quase 20% de casas vazias (uma em cada cinco!) referiam-se a casas colocadas em regime de aluguer (3.4%) estando as outras 12.2% simplesmente classificadas neste estudo da PORDATA como “vagas”. De forma compreensível, dada esta situação, Lisboa terá perdido um terço dos seus habitantes desde a década de 1960.
Esta situação esquizofrénica só pode ser explicada pela continuação artificial da alta dos preços do imobiliário, por forma a não deixar estourar a bolha imobiliária inflada pelas loucuras patrocinadas pela especulação e pela Banca até 2008. Agora, nem a Banca, nem os Bancos norte-europeus querem que essa bolha estoure, ja que esse estouro iria levar à falência os bancos nacionais que se envolveram nessas aventuras especulativas. Em resultado temos um mercado imobiliário paralisado em preços especulativos e desajustados do valor real das habitações e que expulsa de Lisboa muitos dos seus potenciais habitantes. Impõe-se racionalidade nos preços do imobiliário e a Banca tem que assumir as perdas que se recusa a assumir e dar o seu contributo para um abaixamento generalizado dos preços da habitação sendo esse o Nó Górdio que ainda não foi desatado em Lisboa.
Sinais desse bloqueio do mercado imobiliário lisboeta é também o facto de quase um quarto da população ter mais de 64 anos, e onde os jovens são menos de 13%, tornando a nossa capital uma das cidades mais envelhecidas do país (a média nacional de idosos na população é de 19%, enquanto que em Lisboa essa média ascende a 23.9%). Outro sinal do envelhecimento da capital é o facto de mais de metade (!) da população ser pensionista e de ter uma população universitária muito significativa.
Este “retrato de Lisboa” mostra claramente quais são as prioridades da cidade:
1. O elevado preço por metro quadrado das casas antigas: sendo este um problema nacional, é difícil que a Câmara tenha ferramentas suficientes para o resolver de forma cabal. Mas a CML não está de mãos atadas. Pode usar o seu peso na economia urbana para influir na descida dos preços, financiando a juros baixos renovações urbanas, tomando posse de edifícios que estejam em manifesto e perigoso grau de abandono e reintroduzi-os no mercado da habitação ou implementando “planos brancos da habitação” semelhante aos lançados pelos Provos na Holanda da década de 1960.
2. Um mercado de arrendamento disfuncional que deve ser corrigido pela implementação de arrendamentos camarários a preços controlados e pelo regresso do município ao mercado da construção e da renovação da habitação na capital.
3. Grande número de habitações degradadas porque abandonadas há muitos anos: como acima se disse, estas devem ser tomadas a quem as conserva para fins especulativos tomando posse das mesmas e entregando uma indemnização justa ou uma renda mensal ao seu proprietário original.
4. O envelhecimento ativo e o apoio social e médico aos idosos deve ser uma das prioridades de qualquer executivo autárquico sendo este aspeto concretizado através de redes de solidariedade e de prestação de cuidados de saúde através de ONGs e das Juntas de Freguesia.
Fonte:
http://economico.sapo.pt/noticias/mais-de-15-das-habitacoes-de-lisboa-estao-vazias_163426.html
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