
Beppe Grillo
Se existe um movimento ou partido político que importa ir seguindo na atual cena política europeia esse é o movimento de democracia direta e participativa “Cinco Estrelas” de Beppe Grillo. O seu movimento formou-se na Internet e tinha inicialmente o propósito de protestar contra a corrupção galopante e descontrolada em Itália e o estado da sua classe política. Mas este movimento haveria de crescer a apresenta-se agora às eleições legislativas italianas e ocupa agora um confortável terceiro lugar nas sondagens com 20% das intenções de voto.
O objetivo assumido é o de “colocar os cidadãos comuns, de bem, dentro do Parlamento”. Curiosamente, Grillo não se encontra entre os candidatos, e logo, não será eleito, uma vez que acredita que é necessário “tirar os políticos profissionais de cena”. A prazo, o Movimento tenciona… dissolver-se. Nas palavras de Beppe Grillo, o objetivo é deixar de funcionar como “movimento” e colocar no Parlamento italiano cidadãos que sendo “o Estado”, dispensarão os Partidos, cidadãos eleitos em primárias on-line, instando a este propósito os partidos políticos convencionais a seguirem-lhe o exemplo. Desta forma, Grillo pretende substituía a “nação sem Estado” que diz ser a Itália de hoje por “um Estado feito de cidadãos”.
As listas do Cinco Estrelas têm cidadãos das mais diversas proveniências e setores, desde desempregados, a engenheiros, donas de casa e advogados. Grillo assume que a intenção do Movimento é “dar um choque de democracia direta. O partido político é uma intermediação desnecessária que se apropria da democracia e engole o país. Nós temos a rede, não precisamos de partidos. Com a Internet podemos tudo. Com um clique temos as informações de que precisamos e podemos controlar aqueles em quem votamos. Só é preciso um pouco de transparência. Nosso movimento prova que é possível eleger pessoas comuns, honestas, que abram mão de um salário astronómico e de benefícios sumptuosos.”
Os deputados que o Cinco Estrelas elegeram em 2010 nas eleições regionais em Parma e na Sicília reduziram voluntariamente o seu salário de 20 mil para 2 mil euros, recusaram o carro oficial e abdicaram de vários reembolsos, seguindo regras determinadas pelo Movimento. Estas regras determinam também que ninguém seja nunca censurado; que ao fim de duas legislaturas se abandona a carreira política e que se recusa todo o tipo de pagamento de despesas oficiais, recusando por exemplo o reembolso estatal de despesas de campanha. Quem não segue estas regras é expulso e isso de resto aconteceu recentemente com quatro destacados militantes do Cinco Estrelas, que foram expulsos por irem à televisão prestarem declarações… outra das regras deste original movimento participativo italiano.
Os candidatos do Movimento foram escolhidos em primárias on-line, recolhendo assim mais de 200 mil votos. Mesmo depois das primárias, os candidatos continuam presentes no site do movimento com telefones e moradas e respetivos programas, estimulando-se o contacto com os seus apoiantes.
Quanto à grave situação económica que atravessa Itália, o Cinco Estrelas acredita que tudo advém da obsessão pelo “crescimento”, que neste atual modelo não há recuperação possível e que há que assumir claramente a bancarrota, decretando a moratória e parar de pagar os juros escandalosos aos bancos alemães e franceses. Sem esses pagamentos imorais, a Itália poderá – sugere Grillo – fazer um acordo de “comércio livre” entre os países do Sul (Espanha, Itália, Portugal e a Grécia) e fazer uma “coligação de Pigs” e dizer “agora basta!”, resgatando assim a perdida “soberania monetária, alimentar, energética. Esse é o nosso sonho. Precisamos sonhar porque vivemos em um pesadelo.” Quanto à manutenção no Euro, Grillo defende um referendo nacional. Aliás, um dos esteios do Cinco Estrelas é precisamente a defesa do mecanismo dos referendos: a este propósito, Grillo acorre ao modelo suíço, onde estes são aplicados há mais de duzentos anos, com grande sucesso. Defende assim referendos via Internet, colocando praticamente todos os temas a referendo, desde as concessões de televisão, a imigração, a presença militar em países estrangeiros e o financiamento público das campanhas eleitorais.
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