O que se passou nas comemorações do último (literalmente) 5 de outubro revestiu-se de uma grande importancia simbólica, a vários níveis:
1. Em primeiro lugar, o facto de ter havido uma comemoracao: longe do fausto de outros anos, houve, ainda assim, uma comemoracao: imoral e indecente. Num país em bancarrota (mascarada apenas pelo emprestimo da troika) resulta pornografico gastar recursos em algo que seja mais que essencial. Quanto se gastou numa cerimónia fechada aos cidadãos e aberta apenas a VIPs? Nem que seja um euro, gastou-se um Euro a mais num país que deixa quase um milhão de pessoas no desemprego, dos quais metade sem qualquer subsídio.
2. A Bandeira ao Contrário: este engano – prenhe de simbolismo – resulta obviamente de um erro de algum dos numerosos assistentes da hoste que rodeia Cavaco Silva e que é paga a peso de ouro com parte dos 42 mil euros que a Presidencia da República devora todos os dias aos contribuintes. Além deste erro, pergunta-se que Presidente é este que não reparou que estava a hastear a bandeira ao contrário? Está já assim tão mentalmente diminuido, que já nem distinga? E se distinguiu, porque nao tomou a decisao de a fazer descer, por forma a corrigir o erro?! Uma bandeira ao contrário, significa um “país ocupado” ou, pior, uma repulsa em relação ao signo contido. Simbolicamente, é de facto esse o momento em que vivemos: um país sob ocupação da troika (dominada pelos norte-europeus) e negando-se a si mesmo todos os dias, evaporando-se, destruindo-se e desaparecendo…
3. A cantora lírica: os políticos e VIPs que se refastelaram na cerimónia privada (como se palácio da Ajuda não fosse de todos nós e não deste bando de politicos-encartados) foram surpreendidos por duas espontâneas e genuínas expressoes de cidadania: numa dela, uma cantora lírica começou a cantar a meio do discurso dos políticos-encartados, interrompendo-os e incomodando esta cafila que nos levou (a começar por cavaco) para o fundo abismo onde hoje caimos. Quiseram manter o povo à porta, mas falharam. O povo entrou e cantou. Sem que nenhum facanhudo securitate se atrevesse a silenciá-la. Muito bem.
4. A indignada dos 200 euros: já não teve tanta sorte… a mulher que tentou aproximar-se da bancada dos politicos-encartados-arengadores foi prontamente bloqueada e arrastada para fora do palácio pelos securitates da politicagem (pagos com os nossos enormes impostos, diga-se). Os seus gritos, a sua agitação, foram o ponto alto de um evento tépido de discursos fora de contexto e de balofos ansiando a próxima rotação do rotativismo democratico. Tivesse ela ficado na bancada, gritando e os securitates não a tivessem expulso. Fica a lição.
5. A Cerimónia de acesso proibido aos cidadãos-contribuintes: Esta politicagem medrosa sabe até levou o país e que os cidadãos sabe que foram eles quem o levou até ao abismo furtando-se sempre aos sacrifícios coletivos e vivendo como autênticos nababos. Foi esta politicagem que se escondeu do povo nestas comemorações. Cobardes e sabendo-se culpados, acham que conseguem governar longe do povo. Mas o povo esta farto e esta subida “enorme” de impostos (que nem consta aliás do Memorando da troika) vai mostrar-les que não somos um povo bovino e dócil. Pisaram o risco da decência e não ha mais muros de palácios nem securitates facanhudos que os resguardem sempre que sairem de casa.
6. Para quando a declaracao de Cavaco Silva que vai aplicar também austeridade no seu faustoso orcamento de 42 mil euros/dia? Tinha esperança de – perante a gravidade do momento – ver cavaco anunciar a compressão voluntária do seu orçamento. Mas não, o bodo e o fausto continua.
7. A Fuga de Passos: para não ter que ouvir mais apupos, Passos pirou-se para Bratislava, numa reunião de uma hora, inconsequente e sem frutos. Fugiu. A diferença é que fugiu para mais longe. Os que estavam no palácio tinham apenas dugido para dentro do palácio, longe do povo.
8. O discurso de Cavaco: nada. Nada a dizer. Nem sobre mais este discurso oco e descontextualizado nem sobre uma figura patética, doente e miseravel. Desculpem, mas não consigo perdoar a quem o re-elegeu ou deixou eleger.
Artigo excelente, muito bem escrito, quanto ao conteúdo é na realidade vergonhoso, um vómito nacional!
De facto, esta sucessao de “pequenos episódios” diz tanto do momento em que vivemos.
Dificilmente se encontraria episodio mais exemplificativo.
Sim, todos os factos aqui descritos são bem elucidativos da actual situação. A própria situação ridícula de colocarem um símbolo nacional virado ao contrário penso que acaba por ser quase como uma mensagem subliminar do desgoverno a que a nação portuguesa está submetida, ou seja, o governo que deveria governar também está virado ao contrário, as decisões que toma ilustram o simbolismo desse erro, assim como a bandeira nacional, o governo também desgoverna, também está ao contrário…
É incrivel como uma comemoracao que é geralmente esvaziada de sentido acabou por ser tao fertil, precisamente no ultimo ano do feriado e numa cerimonia secreta, fechada apenas a vips.
Isto mesmo devia ser lido pelos responsaveis politicos deste pais:
O Povo quer falar e sente que nao está a ser ouvido, e quando assim é abrem-se a porta a todas as consequencias.
È pena ninguem ter a coragem de mandar uma morteirada no sitio certo.Talvez ai acordassem para o mundo real.
Ainda nao chegamos a esse ponto: mas os politicos que se cuidem: manifestacoes espontaneas deste tipo serao cada vez mais comuns e imprevisiveis…
Desde o 25 de Abril de 1974 que estes partidos nos tem vindo a governar e já demonstraram a sua incapacidade, por isso temos de os rejeitar. Pedro Passos Coelho iguala-se a Sócrates porque, um e outro, são pessoas sem palavra nem têm dignidade para representar o povo português dado à sua postura de constante mentira nas promessas que fazem aos portugueses
Povo que em eleições tem o dever de ser expressar. Mas que nao o tem feito, permitindo a erupcao de chagas como este atual governo, diga-se.
Estas comemorações parece que foram retiradas dum guião de Fellini.
🙂 ensaiadas nao ficariam melhor, de facto’
Foi karma e coletivo… e mais casos semelhantes virao ai.
Portugal precisa…
Faz tempo que precisa…, a revolução de Abril foi uma revolução burguesia elitista(se é que se pode chamar a essa merda burguesia) de uma população com 80% de analfabetos (hoje a taxa piorou), todos sabem ler, mas apenas Lêm a bola, de que serviu o estado gastar dinheiro?
Os jovens de hoje são a força de Portugal, mas uma força sem direcção é inútil. Li aqui que os Gregos de organizaram, pois os portugueses que o façam antes de Angela Merkel chegar, basta furar as redes por trás do aeroporto e soltar porcos!
Um povo iletrado ou melhor, incapaz de entender o que o rodeia e bovinizado pelos Media faz parte de um sistema para manter tudo na mesma.