“Foi publicado um estudo da OCDE que mede a correlação entre a performance dos testes PISA e o aumento do PIB em resultado da exploração dos seus recursos naturais.
O resultado é absolutamente revelador, pois, de acordo com este estudo, “verifica-se que existe uma relação significativa negativa entre as riquezas naturais extraídas e as competências e conhecimentos adquiridos nas escolas” – Dito de outra forma, quanto maior é a extração de recursos naturais, mais baixos são os níveis de conhecimentos adquiridos nas escolas. Neste sentido, também Israel (como Taiwan) constitui um paradigma, dado que, apesar de ser um país pobre em recursos naturais, tem uma das mais inovadoras economias do mundo e a sua população goza de padrões de vida muito superiores aos dos seus vizinhos ricos em petróleo. Os altos resultados do PISA em Singapura, Finlândia, Coreia do Sul, Japão e Hong Kong e os baixos resultados do PISA em testes no Qatar, Cazaquistão, Arábia Saudita, Kuwait e Omã provam que os livros são bastantes mais profícuos que os recursos naturais no desenvolvimento das nações.
Por conseguinte, é na aposta de um ensino exigente e de qualidade, com professores fortemente motivados, que está a resposta à saída da crise do nosso país. Por isso, causa estupefação os cortes radicais e incompreensíveis, de alguns anos a esta parte, no ensino, e, especial nas universidades.
(…)
Acresce que a minha perplexidade não tem limites quando membros do executivo aconselham os nossos filhos, jovens talentosos, muitos deles altamente qualificados, que constitui, a verdadeira riqueza deste país, a emigrarem, agravando o desequilíbrio demográfico e aumentando a pressão sobre o sistema de segurança social. “
Domingos Ferreira
Publico 28 de março de 2012
Desde logo, ressalta aqui a ausência de Portugal de uma lista onde – pela escassez de recursos naturais – devia constar e, especial destaque… com efeito, poucos países de média escala do globo se encontram menos providos de riquezas naturais que Portugal… e contudo, algo no nosso sistema educativo se encontra tão quebrado e disfuncional que impede que os nossos estudantes obtenham melhores resultados.
O problema que nos repele dos lugares cimeiros dos testes PISA é conhecido e está bem identificado: não é a falta de recursos (a despesa por aluno é superior à alemã, assim como o quadro remuneratório), mas a sua utilização. Em particular, não existe no sistema público de ensino nacional uma meritocracia aplicada nas duas vertentes principais da educação: os alunos e os professores.
Décadas de teorias educativas facilitistas aumentaram a posição estatística o país em algumas tabelas comparativas, mas nada fizeram para melhorar realmente a qualidade do ensino e as competências e capacitações dos nossos alunos. O sistema não tem simplesmente mecanismos de prémio de mérito: não existem prémios pecuniários ou em materiais de estudo nem para os melhores alunos, nem para as suas famílias. Sobretudo, não existem estímulos ao esforços, capacidades e méritos dos melhores professores. Em particular, o seu vencimento não está suficientemente ligado ao rendimento escolar dos seus alunos (medido em testes independentes) para estimular os piores e premiar os melhores.
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