O Brasil está a participar nas negociações com um grupo de países lusófonos e de outras regiões geopolíticas que têm como objetivo reunirem um total de 45 milhões de dólares para financiarem as reformas antecipadas do oficialato guineense e cessar assim com a permanente instabilidade militar neste país lusófono da África Ocidental.
Este é um plano já antigo, mas tem estado bloqueado por falta de financiamento. Agora, tem condições para regressar à ribalta e juntamente com as pressões diplomáticas e junto da ONU pode contribuir efetivamente para uma resolução definitiva da permanente instabilidade militar que tem afetado a Guiné-Bissau desde o fim do regime de Partido Único.
Esta iniciativa do governo brasileiro e protagonizada pelo embaixador Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, subsecretário-geral para África e Oriente Médio do Itamaraty, prevê que o dinheiro reunido seja entregue à ONU, entidade que depois se encarregaria de o utilizar para desmobilizar a totalidade do exército guineense (perto de cinco mil homens). A iniciativa vai de encontro a outras posições semelhantes que já defendemos no Quintus, mas peca pela crónica incapacidade dos governos de Brasília em utilizarem a CPLP como um instrumento para projetarem a sua diplomacia e influência internacional. De novo, neste fundo refere-se a ONU mas omitem-se completamente duas entidades que na Guiné serão decisivas para resolver o conflito: a CPLP e a CEDEAO. Sobretudo, o fundo aplica-se de forma cega, a todos os militares, ignorando que o problema reside nas altas patentes e nas suas ligações ao narcotráfico sem prever qualquer inevitável mecanismo judicial que coloque estes responsáveis por detrás das barras de ferro de uma prisão.
Em termos internacionais, os golpistas estão cada vez mais isolados: o Banco Mundial e o Banco do Desenvolvimento Africano suspenderam os programas de fomento, mantendo apenas os programas de emergência.
No Conselho de Segurança, entretanto decorre a diplomacia, esperando-se que sejam emitidas e aprovadas uma série de declarações crescentemente mais duras para com os golpistas na Guiné-Bissau, sendo por enquanto ainda muito pequenas as possibilidades que se autorize o envio de uma “força de interposição” (pedida pela CPLP e no Conselho, por Portugal) com a missão de restaurar o quadro constitucional e de fazer regressar ao poder os lideres legítimos da Guiné-Bissau. Se for aprovada, esta força poderá começar a ser preparada ainda em finais do corrente mês de abril, segundo fontes diplomáticas portuguesas e brasileiras.
Recordemos que o Brasil em 2009 tinha elaborado sob a Administração Lula um plano para instalar na Guiné-Bissau duas bases militares conjuntas com Angola. O seu objetivo seria a profissionalização do exército guineense, cabendo a Angola treinar as patentes mais baixas e ao Brasil treinar as mais altas. O plano, contudo, nunca progrediu no terreno e ainda bem – dizemos nós – porque, de novo, excluía Portugal e a CPLP deste quadro dando provas de que o Brasil não considera ainda a Comunidade lusófona como um possível instrumento para amplificar a sua diplomacia e que insiste em tomar medidas bilaterais em problemas que carecem de uma visão multilateral que nao exclua do problema nenhum dos atores que são aqui essenciais à sua resolução, Portugal e CEDEAO incluídos.
Essa é a visão da integração, defendida por Paulo Portas no Conselho de Segurança quando defendeu neste fórum o estabelecimento de uma “missão de estabilização mandatada pelas Nações Unidas” que integrasse não somente militares dos países da CPLP, mas também meios militares, logísticos e financeiros da CEDEAO e da União Africana. São atitudes como esta – isolacionista ou de um excessivo bilateralismo – que diminuem a relevância internacional do Brasil e logo negam reiteradamente o merecido estatuto de potência mundial.
Entretanto, sabem-se hoje mais alguns detalhes daquilo que foi a causa imediata do golpe militar: a MISSANG já conhecia as intenções dos golpistas dias antes destes decidirem avançar contra o governo guineense uma vez que estes informaram os Serviços de Inteligência Externa de Angola da sua intenção, avisando-os de que contavam com a sua neutralidade. Em resposta, os angolanos terão recusado afirmar uma posição nítida, mas Luanda ordenou o envio para a Guiné de meios pesados, como três blindados de transporte de tropas, artilharia e helicópteros, sendo que estes, contudo, nunca chegaram a Bissau.
Fontes:
http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=2431829&seccao=CPLP
http://www.publico.pt/Mundo/dissidente-do-paigc-escolhido-pelos-militares-para-presidente-da-guinebissau-1542801?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+PublicoRSS+%28Publico.pt%29
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Palops/Interior.aspx?content_id=2431216
http://www1.folha.uol.com.br/bbc/1078351-brasil-defende-fundo-para-conter-golpe-na-guine-bissau.shtml
http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=2431830&seccao=CPLP
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=546677&tm=7&layout=121&visual=49
Já subscreveu a Carta Aberta à CPLP de Apoio à Guiné-Bissau ?
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