“Portugal tem hoje (2010), no seio da crise estrutural em que está mergulhado, onde a saúde e a educação são os problemas mais marcantes e o desequilíbrio social é acentuado, Portugal tem a oportunidade de operar uma revolução nas mentalidades, uma espécie de revolução espiritual centrada na ética e na moral do quotidiano.”
Rumar Portugal, Considerar a Europa, Pensar a Lusofonia
António José Borges
Nova Águia, número 8
A crise financeira é atualmente central a quase todos os aspetos da sociedade portuguesa contemporânea. Mas esta crise económica não está no epicentro desta crise grave e fundacional que vive hoje Portugal. No centro está uma crise dupla: Ética e de Desígnios Estratégicos.
A crise ética exprime-se na existência de uma corrupção “suave” e discreta que permeia praticamente todos os segmentos da sociedade: é o mestre de obras que não passa recibo, o advogado que ajuda empresários e políticos corruptos a escaparem aos impostos, o policia que vende armas e drogas, o juiz que deixa atrasar processos e que julga sem juízo nem tino, o médico que pica o ponto no hospital público e depois vai para o seu consultório privado, o empregado que “perde” o laptop da empresa, o gestor que troca de BMW ao mesmo tempo que despede trabalhadores, etc, etc.
Existe na sociedade portuguesa uma sensação de impunidade criada por um sistema de Justiça altamente corporativo e ineficiente/incompetente. Esta impunidade é reforçada pela escassez de meios atribuídos às policias de forma intencional pelos políticos corruptos que não querem ser investigados e por uma sociedade civil dormente e amorfa.
A “revolução espiritual centrada na ética e na moral do quotidiano” de António Borges, livre das ambições politicas e imperiais de outras revoluções passadas vai começar dentro de cada um de nós. O exemplo da frugalidade, do foco na vida cultural e interior, da vida conversável vai fazer despertar em nós aquele verdadeiro portugueses, universalista e aventureiro que a doença fundamentalista cristã de Dom Joao III infetou na nossa cultural. O português do futuro, não será como esses europeus do norte, materialistas e obcecados com a acumulação fátua de coisas e luxos, mas frugal, espartano por temperamento e estóico por natureza. Mentalmente rico, humanamente pleno e tao solidário e abnegado com os Santos do apogeu do cristianismo. Esse será o exemplo do “homem português” que depois – através da União Lusófona – dará ao mundo o exemplo de um novo tipo de Estar que o mundo ainda não conheceu.
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