Não gosto de Sarko. Não aprecio o seu estilo populista, nem a deriva autoritária, nem as suas inclinações neoliberais e com certeza que não gosto da sua parelha com Merko. Mas agora – em campanha – Sarko disse algo com que não posso deixar de concordar: defende a criação de legislação europeia que promova a compra e a utilização de produtos europeus, nomeadamente daqueles produzidos por empresas que, produzindo na Europa, beneficiem de dinheiros públicos europeus.
A medida seria muito criticada pela China e pelos EUA, certamente, e especialmente pela ditadura de Pequim já que esta se habitou a bloquear a entrada de produtos europeus no seu mercado por todas as formas (mais ou menos opacas) e a viciar a Europa no crédito por forma a financiar assim um endividamento externo crescente e – a prazo – explosivo. Os EUA, contudo, não devem produzir mais que um protesto oco e formal já que eles próprios estão agora a implementar a “Buy American Act”….
De facto, percorre o globo, desde a China à Índia, passando pelo Brasil e pelos EUA, todo o mundo está a reerguer as portas alfandegárias e a implementar mecanismos de estímulo à produção de substituição de bens importados. Todo o mundo, menos a Europa, que continua a ser essencialmente um imenso mercado para as produções de todo o mundo em troca de uma divida externa cada vez mais impossível de pagar.
A Europa precisa de líderes corajosos, capazes de afrontar os dogmáticos do neoliberalismo e de repor alguma equidade nas relações comerciais com a China, compensando os seus múltiplos dumpings com taxas alfandegarias. A Europa deve também – sem falsos pudores – fomentar a produção e compra de produtos europeus, e cuidado: se Sarko quer implementar um “Buy French Act” idêntico ao que Obama lançou nos EUA então esse “act” vai também aplicar-se aos produtos portugueses e de outros parceiros de França na União Europeia. E se assim for, então todos os países europeus devem imitar França… A começar por Portugal.
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