“A decisão de flexibilizar as regras para com Espanha abre um rombo nas novas regras europeias, que demoraram quase dois anos a serem negociadas e entraram em vigor há apenas três meses, com sanções bem mais severas e automáticas para os países incumpridores, de modo a evitar o tipo de negociação política que rebentou com o pacto de estabilidade em 2003.
O problema é que a partir do momento em que resolveram politicamente o problema espanhol, os Dezassete terão grandes dificuldades em explicar por que é que não flexibilizam igualmente a trajetória de consolidação fixada para Portugal, ou Grécia, cuja recessão económica e esforço de ajustamento são bem mais sérios do que em Espanha. “
Publico, 14 de março de 2012
É nestes momentos que os povos com memoria (uma qualidade cada vez mais rara nos dias que correm) se devem recordar que os primeiros países a quebrarem os limites do défice orçamental público foram precisamente os dois “maiores” países da União Europeia, Alemanha e França. Então (como hoje) a Europa tem dois pesos e duas medidas: para os pequenos, como Irlanda, Grécia ou Portugal exige rigor, austeridade e cortes. Para os “grandes” como França e Alemanha, antes e Espanha, agora mostra tolerância e flexibilidade.
São atitudes como esta que demonstram que esta é uma europa bastarda, com “e” pequeno, onde a coesão e a solidariedade inter-estados são conceitos ocos e esvaziados de sentido. Os que pertencem aos “grandes” recebem carta branca para todas as tropelias e aleivosias, os demais estão basicamente tramados. A conclusão é óbvia e está à frente de quem a quiser ver: os “pequenos” devem deixar os “grandes” brincando onanisticamente entre si e partir à sua vida, recentrando sobre si mesmos os seus próprios rumos e rejeitando uma “união” cada vez mais dos “grandes e ricos” e ciosa dessa exclusividade ou buscando formar uma “união dos povos do sul” que terá pelo menos o mérito de não poder contar com estes egóticos povos do norte (e onde “grandes” como Itália e Espanha se depois poderão juntar) ou saindo: reconstruindo o destruído tecido produtivo e buscando alem mar (por exemplo: Portugal na Lusofonia) um seu destino maior e menos mesquinho do que o desta “união” europeia.
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