
Daniel Oliveira (http://aeiou.visao.pt)
“Em 2007, a Comissão Europeia, através da diretiva MIF (Mercado de Instrumentos Financeiros), desregulou a organização das praças bolsistas na Europa. Com a sua fé inabalável na concorrência, conseguiu o que queria: metade das transações bolsistas europeias são feitas fora das bolsas, através de sistemas opacos; que permitem que as transações sejam feitas sem se saber por quem, em que quantidades e a que preço. Do capitalismo de casino passámos ao capitalismo de candonga. Tudo se passa em computadores superpotentes; numa multiplicação vertiginosa de transações que os profissionais mais especializados neste jogo controlam.”
> Esta economia virtual, que movimento recursos incríveis, sempre fora da economia real e sem introduzir qualquer espécie de valor na cadeia de produção tem que ser estancada. Após a crise do Sub-prime de 2008 (que ecoa ainda hoje, sob a forma de “Crise das Dividas Soberanas”) muitas foram as vozes de políticos que clamavam pela regulação deste mundo desbragado e incrivelmente arrogante. Mas nada de concreto se produziu. E a Europa (onde essas vozes foram mais altas) não só não fez nada para impedir a continuação dos Offshores que funcionam no seu próprio seio, como manteve inalterada esta diretiva MIF.
“As coisas estão neste estado porque fizeram (e continuam a fazer) escolhas políticas criminosas. Porque os governos são estúpidos? Não. Porque são politicamente corruptos. Quando vemos António Borges a dirigir o Departamento Europeu do FMI e Mario Draghi à frente do BCE e sabemos que os dois foram vice-presidentes da Goldman Sachs – que foi quem mais ganhou com a crise do subprime e que ajudou a Grécia a mascarar a verdadeira dimensão do seu défice -, percebemos de quem estamos reféns. De gente com um currículo que deveria ser considerado cadastro.”
> a política há muito que se tornou no campo de expressão dos lobbies financeiros. Os ditos “partidos de governo” que se alternam ano após ano, nos países que compõem a União Europeia são hoje pouco mais que joguetes destes interesses que financiam as campanhas eleitorais e que empregam os políticos quando estes se “reformam” da política ativa. A moralização da política é assim uma das prioridades das nossas sociedades, por forma a obviar à ocorrência destas cumplicidades. Mas a agilidade e a devida dotação de meios das policias e dos tribunais é ainda mais importante, porque urgente e porque mais produtiva a curto prazo. Mas não chegam. É preciso também que sejam completamente proibidos todos os financiamentos partidários, de empresas ou particulares e que todos os partidos políticos dependam unicamente dos orçamentos de Estado. E que se estabeleçam regras muito restritivas quanto ao tipo de carreiras e ramos profissionais que os antigos políticos podem exercer após o abandono da sua carreira política ativa.
Fonte:
Expresso; 8 de outubro de 2011
Eu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote(87anos),não entendo nada de Bancos,nem de Paraísos Fiscais,nem das «jogatanas» nas Bôlsas de Valores,mas porque será que a estátua de Mercúrio,o Deus do Comércio e dos Ladrões,está na Bôlsa de Valores?!
para efeitos de branquear… nenhum deus que se preze gostaria de estar associado a tamanho antro de corrupção, desperdício e egoísmo.
Apesar de não partilhar das mesmas simpatias políticas do Daniel Oliveira, tenho de o reconhecer como um dos mais lúcidos cronistas sobre os males que nos afligem na actualidade, chamando os “bois” pelos nomes sem estar preso aos modelos mentais correntes nem posturas politicamente correctas.
nem eu (pelo menos, não totalmente), mas ele joga noutro campeonato, de independência moral e intelectual entre muitos outros fazedores de opinião…