“Em 2007, a Comissão Europeia, através da diretiva MIF (Mercado de Instrumentos Financeiros), desregulou a organização das praças bolsistas na Europa. Com a sua fé inabalável na concorrência, conseguiu o que queria: metade das transações bolsistas europeias são feitas fora das bolsas, através de sistemas opacos; que permitem que as transações sejam feitas sem se saber por quem, em que quantidades e a que preço. Do capitalismo de casino passámos ao capitalismo de candonga. Tudo se passa em computadores superpotentes; numa multiplicação vertiginosa de transações que os profissionais mais especializados neste jogo controlam.”
> Esta economia virtual, que movimento recursos incríveis, sempre fora da economia real e sem introduzir qualquer espécie de valor na cadeia de produção tem que ser estancada. Após a crise do Sub-prime de 2008 (que ecoa ainda hoje, sob a forma de “Crise das Dividas Soberanas”) muitas foram as vozes de políticos que clamavam pela regulação deste mundo desbragado e incrivelmente arrogante. Mas nada de concreto se produziu. E a Europa (onde essas vozes foram mais altas) não só não fez nada para impedir a continuação dos Offshores que funcionam no seu próprio seio, como manteve inalterada esta diretiva MIF.
“As coisas estão neste estado porque fizeram (e continuam a fazer) escolhas políticas criminosas. Porque os governos são estúpidos? Não. Porque são politicamente corruptos. Quando vemos António Borges a dirigir o Departamento Europeu do FMI e Mario Draghi à frente do BCE e sabemos que os dois foram vice-presidentes da Goldman Sachs – que foi quem mais ganhou com a crise do subprime e que ajudou a Grécia a mascarar a verdadeira dimensão do seu défice -, percebemos de quem estamos reféns. De gente com um currículo que deveria ser considerado cadastro.”
> a política há muito que se tornou no campo de expressão dos lobbies financeiros. Os ditos “partidos de governo” que se alternam ano após ano, nos países que compõem a União Europeia são hoje pouco mais que joguetes destes interesses que financiam as campanhas eleitorais e que empregam os políticos quando estes se “reformam” da política ativa. A moralização da política é assim uma das prioridades das nossas sociedades, por forma a obviar à ocorrência destas cumplicidades. Mas a agilidade e a devida dotação de meios das policias e dos tribunais é ainda mais importante, porque urgente e porque mais produtiva a curto prazo. Mas não chegam. É preciso também que sejam completamente proibidos todos os financiamentos partidários, de empresas ou particulares e que todos os partidos políticos dependam unicamente dos orçamentos de Estado. E que se estabeleçam regras muito restritivas quanto ao tipo de carreiras e ramos profissionais que os antigos políticos podem exercer após o abandono da sua carreira política ativa.
Fonte:
Expresso; 8 de outubro de 2011
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