Primeira Invasão
Apesar de a 30 de outubro de 1807 o Príncipe Regente Dom João ter formalmente declarado guerra à Grã-Bretanha e de ter mandado prender todos os ingleses residentes no país – respondendo assim ao Bloqueio Continental de Napoleão – simultaneamente, o Regente coloca em marcha a convenção secreta assinada oito dias antes e que previa a evacuação da Corte para o Brasil com a proteção de uma frota britânica.
A entrada do exército de Junot em território nacional ocorre pouco depois, a 19 de novembro de 1807, através de Segura, avançando até Castelo Branco, que é ocupada dois dias depois. Só então é que o Príncipe Regente se decide finalmente a evacuar a Corte para o Brasil, começando o embarque de mais de 10 mil pessoas (ou 15 mil segundo outras fontes), juntamente com os arquivos do Estado e o Tesouro Nacional. Dom João ordenara “que a defesa contra as tropas do imperador seria mais nociva que proveitosa” no que seria acompanhado pelas autoridades religiosas que sugeriam à população a partir dos seus púlpitos: “toda a quietação e auxílio às tropas francesas” mas alguns iam ainda mais longe nesse “auxílio” como os maçons que saíram de Lisboa para irem saudar as tropas francesas que entravam em Sacavém ou em Leiria, onde a Câmara da cidade expressava o “mais vivo entusiasmo, e admiração pelas virtudes daquele Grande Monarca: o nome de Napoleão o Grande sempre pronunciado entre nós com veneração e entusiasmo”. Esta atitude generalizada de passividade ou mansa tolerância explica porque é que Soult nas suas memórias escreveria a propósito da entrada de Junot: “a população, olhando ainda os franceses como aliados, tinha-os aclamado e dispensado o mais cordial acolhimento” e que: “os patriotas (portugueses) já viam Portugal renascer sob um Rei escolhido pelo Imperador.” mais tarde, Soult comentaria sobre a estratégia de Junot para enquadrar esse acolhimento positivo por parte da maioria dos portugueses na estratégia francesa: “o sentimento dominante dos habitantes era o da independência nacional: fez todos os esforços que podia para os persuadir de que esta independência seria respeitada sob a égide imperial. Tinha adulado o clero e as pessoas mais influentes com o fim de criar um partido francês”.
A frota de evacuação com que o Príncipe Regente partiu de Lisboa contava com mais de 50 navios e largou do porto a 29 de novembro de 1807 – precisamente um dia antes da entrada em Lisboa das primeiras forças de Junot – o qual ainda conseguiu ver as velas dos últimos navios. A frota portuguesa em Lisboa na época era composta por 11 naus de linhas, com entre 64 e 84 peças, das quais 4 estavam fora de serviço, 9 fragatas de 32 a 44 peças, mas apenas 4 utilizáveis, além de 3 brigues de 20 a 22 peças e a uma escuna de 12 peças, apesar de tudo uma força naval considerável e colocada sob o comando do vice-almirante Manuel da Cunha Sotomaior. A viagem até ao Brasil não foi isenta de tensão com a pequena frota britânica de 4 navios que escoltava a grande armada portuguesa navegando sempre em “ordem de batalha”, e tendo na mira os navios portugueses, segundo descrevem os diários de bordo britânicos. Os britânicos receavam que os navios portugueses optassem à última hora por ceder aos interesses franceses e abandonar a aliança…
As forças francesas entravam em Lisboa completamente extenuadas pelas marchas forçadas, com 1500 granadeiros montados em burros e outros soldados de infantaria que mal se tinham em pé (“um bando de maltrapilhos disfarçado de penachos e galões de meia dúzia de generais escudados na fama de Napoleão” (Álvaro Guerra). Ao deixar escapar o Regente entre os dedos, Junot frustrava assim uma das ordens que tinha recebido de Napoleão e que era a captura da família Real e a consequente extinção da Casa Real portuguesa…
Algumas semanas depois de já estar em Lisboa, Junot tinha na capital menos de 10 mil dos 30 mil homens com que entrara em Portugal. Se tivesse havido vontade e ânimo para enfrentar os franceses tal teria sido possível nessas primeiras semanas. A decisão de retirada do regente resulta assim da falta de organização defensiva erguida em torno de um exército com 24 regimentos de infantaria, 12 de cavalaria e 4 de artilharia, num total que excederia os 12 mil homens. Mas, sobretudo, esta inação resultou da merecida fama de invencibilidade de que gozavam então as forças napoleónicas, muito considerável depois das fulminantes Campanhas de Áustria (1805), da Prússia (1806) e da Rússia (1807). Sabedor das fragilidades das suas forças, Junot mandar dissolver o exército português e envia em março de 1808 os seus melhores quadros para França, onde vieram a constituir a Legião Portuguesa com 9 mil homens sob o comando do marquês de Alorna e dos generais Gomes Freire de Andrade e Manuel Pamplona que foram rapidamente enviados para a Europa central, onde se distinguiram na Alemanha e especialmente na Rússia onde Napoleão perguntaria a Ney porque a caminho de Moscovo colocava sempre os portugueses na vanguarda das colunas, respondendo o marechal: “para ensinar aos que o seguiam como se marchava contra o inimigo e como se ganhavam as vitórias”.
O exército de Junot entrara em Portugal juntamente com três Corpos espanhóis, num total de 24 mil homens. A divisão de Solano, saindo de Badajoz, avança até Elvas e Campo Maior e ocupa Alcácer do Sal, Tavira e Lagos. Pouco depois, firmava quartel-general em Setúbal. Outra divisão espanhola, a de Tarranco, parte de Valença com 6 mil homens e marcha para o Porto onde se reúne com os 4 mil homens da divisão do general Juan Carrafa, entrados por Coimbra e Tomar.
Mas a relação entre os aliados não tarda a deteriorar-se. Napoleão envia para o norte de Espanha um grande exército (a pretexto de reforçar as forças de ocupação em Portugal), mas acaba ocupando a Catalunha e brevemente o marechal Joaquim Murat avança sobre Madrid com 100 mil homens. Contudo, antes que Murat chegue a Madrid a população rebela-se e o rei Carlos IV é destronado em 19 de março de 1808. Manuel Godoy cai em desgraça e Fernando VII ascende ao trono.
O novo rei recebe Murat como se de um aliado se tratasse, mas meses depois é obrigado a abdicar a favor de José Bonaparte. Os madrilenos reagem e rebelam-se contra os franceses, os quais reagem fuzilando milhares de espanhóis, um massacre que um quadro de Goya viria a imortalizar. Esta rebelião em Madrid tem ecos por toda a Espanha e Portugal.
A 1 de fevereiro de 1808 o trono português é declarado vago por Junot e anexado ao Império, como um estado vassalo. Em março de 1808, as divisões espanholas saem de Portugal e são substituídas por regimentos franceses.
A 9 de maio de 1808 o Príncipe Regente anula todos os tratados com França e declara guerra. Em junho ocorrem uma série de revoltas no norte do país e a Junta Provisional do Supremo Governo do Reino assume no Porto o poder. Em Coimbra, o general Bernardim Freire de Andrade alista 7600 homens, em Trás-os-Montes o tenente-general Sepúlveda outros 2 mil. Nas suas memórias, o marechal Soult resume as causas destas primeiras revoltas contra o ocupante gaulês: “A pesada contribuição imposta pelo Imperador, a confiscação decretada sobre os bens do refugiados (no Brasil), o cinismo com que os espanhóis tinham divulgado o tratado secreto que desmembrava Portugal, tudo isto tinha agitado a opinião pública do reino conquistado.” A repressão à revolta é brutal, ineficaz e a prazo, muito prejudicial, como escreveria novamente Soult, mais tarde: “Évora tinha sido saqueada e tinham-se cometido excessos lamentáveis: a lúgubre recordação do saque desta cidade mantinha-se acesa entre os portugueses; e quando o 2o corpo entrar em Portugal encontrará o mesmo ódio aos franceses”.
A revolta popular em Espanha leva à retirada da divisão espanhola do general Solano e idêntica ordem recebe pouco depois o general Balestra. As forças invasoras ficam assim reduzidas aos militares de Junot numa região em torno de Lisboa até Peniche, Abrantes, Setúbal, Almeida e Elvas. Fora desta região, a presença francesa era esporádica e sempre alvo de resistência. Quando o general Loison, partiu de Almeida a caminho do Porto com 1800 homens, é atacado pelos primeiros guerrilheiros e teve que voltar para trás. Em Olhão, a revolta popular de 16 de junho propaga-se pelo Algarve sem que os franceses lhe consigam resistir.
A 24 de julho desembarca o general Arthur Wellesley (depois duque de Wellington) com 14 mil homens que estavam destinados a uma expedição na América do Sul. Sabedor da revolta no Porto e aproveitando o controlo de todo o norte do país pelos patriotas da Junta do Porto, Wellesley encontra-se com o bispo do Porto aceitando a sua recomendação para desembarcar mais a sul na foz do Mondego. Coloca-se então a opção de repetir a operação em Lisboa, mas a presença de uma guarnição francesa no forte de Peniche e de uma esquadra russa com seis mil homens perto de Lisboa faz alterar o plano de desembarque para a foz do Mondego.
A 10 de agosto as forças britânicas juntam-se ao exército português em Leiria: 14 mil britânicos e 6 mil portugueses enfrentam um contingente francês que descera dos 28 mil aquando da invasão e alinhava agora com 12 mil homens nos arredores de Lisboa.
As batalhas de Roliça (perto de Óbidos e onde foram derrotados os 7 mil franceses de Delaborde) e Vimeiro (4 dias depois já com Junot e Loison) são duas importantes vitórias luso-britânicas, (ainda que a Roliça possa ser listada de formas diferentes nos anais dos dois lados) e levam os franceses a assinar a Convenção de Sintra a 30 de agosto, um estranho acordo entre franceses e ingleses que deixou retirar por mar as forças francesas sob escolta naval britânica e com todo o saque obtido, para grande ira dos portugueses reportando por carta a Dom João, no Brasil que nessa convenção havia “condições vergonhosas para nós” e que Junot poderá “governar com o mesmo despotismo até 15 de setembro em que embarcou”. A opinião francesa era semelhante, já que nas suas memórias Soult escreveria “para salvar o seu exército da destruição completa (…) fazendo com que uma negociação habilmente conduzida lhes conseguisse honrosas condições”.
Na primeira invasão, Junot revela-se um mau general, regressando a Portugal num papel subalterno, sob Massena, na terceira invasão. Se a Roliça foi um combate de desfecho incerto, já a sua derrota no Vimeiro foi decisiva foi fatal para a sorte das armas francesas, e nesta derrota teve um papel essencial a sua hesitação em bloquear a marcha a Wellesley e a unir-se aos cinco mil homens de Delaborde.
Segunda Invasão
A vitória luso-britânica na 1a Invasão deve muito à prioridade dada por Napoleão à situação em Espanha. Napoleão instala o seu irmão José Bonaparte em Madrid, como rei, mas isso acende ainda mais o rastilho da revolta espanhola e as forças britânicas estacionadas no norte de Portugal respondem ao seu apelo entrando na Galiza sob o comando de John Moore para serem, contudo, derrotadas pelos franceses na Corunha, em 1809, pelo Marechal Soult.
Napoleão ordena então a Soult a entrada em Portugal mas erra nos seus cálculos, como escreveria o Marechal mais tarde nas suas memórias sobre o plano de campanha de Napoleão: “Prevê-se mesmo o caso em que a posse de Lisboa não será disputada (…) No entanto, há apenas seis meses que todo o Portugal se tinha revoltado contra Junot. Não havia nenhuma indicação de que os ânimos dos habitantes se tivessem alterado e que fosse mais fácil conquistar Portugal”. O exército português fora também reorganizado e o inglês Beresford fora nomeado comandante em chefe. A reorganização de Beresford (excelente organizador, mas general medíocre) tornara o exército português de 1808, mal comandado, pior armado e formado de acordo com um modelo prussiano de meados do século XVIII numa força muito eficaz, com um oficialato totalmente renovado, criando um exército tão eficiente que os franceses no Buçaco julgaram estar perante “ingleses com uniformes portugueses”. Um dos generais de Massena diria que “no que respeita aos portugueses, não lhes foi feita justiça pelo contributo que deram às guerras da península. Menos cruéis, muito mais disciplinados que os espanhóis e com uma coragem mais calma, eles formavam, no exército de Wellington, várias brigadas e divisões que, dirigidas pelos oficiais ingleses, não ficavam a dever nada às tropas britânicas, mas, como eram menos gabarolas que os espanhóis, falaram pouco deles e das suas façanhas e a reputação tornou-os menos célebres”.
A retirada britânica e a consequente desguarnição do norte de Portugal favorecem a entrada de Soult em Portugal onde os franceses registam nova vitória na Batalha do Carvalho d’Este, marchando depois para o Porto, que é ocupado, juntamente com todo o território a norte do Douro sempre com grande dificuldade, como narraria Soult: “Tinha que me haver com a nação inteira: todos os habitantes, homens, mulheres, crianças, velhos e padres, estavam em armas, as povoações abandonadas, os desfiladeiros guardados. Fanáticos precipitavam-se para o meio das colunas francesas, onde encontravam a morte”. O general Silveira liberta Chaves e corta as ligações de Soult com a Galiza. As Beiras estão seguras graças aos 3 mil homens da Leal Legião Lusitana de Robert Wilson.
Em 22 de abril, Wellesley – que fora chamado a Londres para explicar a desastrosa Convenção de Sintra – desembarca em Lisboa e assume o comando de todas as forças luso-britânicas.
A 12 de maio de 1809 um contra-ataque britânico e o abandono “intempestivo e prematuro” (Soult) de Amarante pelo general Loisin expõe o flanco do marechal e leva este a sair da cidade do Porto através de uma retirada brilhantemente executada pela serra de Catalina “por caminhos apenas conhecidos por pastores” para a Galiza sacrificando artilharia e bagagens mas conseguindo salvar o essencial do seu corpo de exército. Nas suas memórias, Soult admitiria a impossibilidade da tarefa que o Imperador lhe atribuíra: “Portugal pegava em armas pela sua independência. Este sentimento era geral, e não era à força que lhe conseguia levar a melhor. Teria sido mais fácil exterminar a nação do que fazê-la ceder.”
Terceira Invasão
No início de 1810 toda a Península estava sob controlo das forças napoleónicas com excepção de Portugal guarnecido pelo exército inglês de Wellington em Badajoz, o português de Beresford na Beira Baixa, a Leal Legião Portuguesa de Wilson e a forças de Silveira no Douro. Em meados de 1810, o Conselho da Regência levantara um exército de linha de mais de 50 mil homens coadjuvados por 4 mil de cavalaria, um esforço muito notável num país com cerca de 2.8 milhões de habitantes…
A terceira e última invasão francesa começou em 1810 e teve como comandante o Marechal André Massena à frente do “Exército de Portugal’ com os seus 65 mil homens divididos em 3 corpos de exército, cada qual atribuído a um marechal: Ney, Junot e Reynier. Massena entrou pela praça-forte de Almeida em agosto e dirigiu-se de seguida diretamente para Lisboa, mas encontrou o exército luso-britânico de Wellesley com cerca de 55 mil homens no Buçaco a 27 de setembro tendo sido aqui vencido. Massena contudo, não se deu por batido já que não tinha chegado a empenhar as suas reservas na batalha e gozara de confortável vantagem em artilharia e cavalaria. Reagrupou o seu exército e tornou a marchar sobre Lisboa, flanqueando habilmente o exército luso-britânico e chegou surpreendido às Linhas de Torres, cuja existência desconhecia por completo, como resulta das palavras deixadas pelo general Marbot: “Os arredores de Lisboa estavam cheios de fortalezas, nas quais os ingleses obrigavam a trabalhar desde há um ano e meio os portugueses, sem que o marechal Ney, que tinha passado um ano em Salamanca, ou Massena, que há seis meses se preparava para invadir Portugal, tivessem a menor ideia destes trabalhos gigantescos”.
A 14 de outubro, Massena iria retirar frente às Linhas de Torres, vencido – desta vez definitivamente – não numa grande batalha, mas numa sucessão de desgastantes escaramuças entre novembro de 1810 e fevereiro de 1811 acabando os franceses por retirarem sobretudo devido à falta de mantimentos provocada pelas ordens do então já Duque de Wellington para que as populações destruíssem as colheitas, agravando ainda mais a moral dos franceses que já não era alta depois da derrota do Buçaco. Como escreveria o historiador M. A. Thiers: “Por todo o lado as aldeias estavam desertas, os moinhos arrombados, os fardos de grão ou palha em chamas. Tudo o que a população não tinha destruído, os ingleses encarregaram-se de o fazer”. Mas nem todo este esvaziamento humano e material foi realizado pelos habitantes destas regiões, não raramente, os próprios aliados ingleses faziam também os seus saques, imitando os invasores franceses, como narra o tenente William Grattan: “estes e outros artigos apresentaram-se como uma grande tentação para os nossos homens fazerem aquilo que não deviam, e abastecerem-se com tudo o que encontravam nas mansões desabitadas. Este ato foi uma leve infração, mas foi argumentado pelos defensores da medida, que Lord Wellington ao ordenar que fossem devastados os terrenos e as localidades, de forma a perturbar o mais possível o inimigo, transformava os portugueses em culpados por não terem levado os seus pertences nem os terem destruído”. Naturalmente, no campo da pilhagem, os franceses eram muito mais aplicados, como descreve o capitão francês Nicolas Marcel descrevendo Coimbra: “não veio à ideia de nenhum oficial opor-se à pilhagem. As portas foram prontamente arrombadas e os campos em breve cheios de objetos do maior valor; móveis, estofos preciosos, licores raros: a baixela de prata corria como se fosse de barro…” sendo contudo os franceses ultrapassados em atos de barbárie pelos nossos aliados, como descrevem as palavras do Barão de Marbot, o ajudante de campo de Massena sobre Pombal: “…uma cidadezinha bonita, local principal do apanágio do celebre marquês do mesmo apelido. O corpo do marquês jazia, antes da nossa chegada, num magnífico túmulo, construído por baixo dum mausoléu enorme, cuja arquitetura era notável. O monumento tinha sido saqueado pelos soldados do exercito ingles que ficaram para trás. Eles abriram o caixão e atiraram os ossos aos pés dos cavalos instalados no interior do vasto mausoléu transformado em cavalariça”. Mas outras grandes personalidades da História portuguesa receberam idêntico tratamento, desta feita dos franceses que em Alcobaça “os restos dos reis e das rainhas foram retirados dos túmulos” e na Batalha “o caixão do dito Rei João aberto, e o corpo, que fora obviamente embalsamado, exposto à vista de todos”.
Durante a retirada houve vários confrontos entre as tropas francesas e as aliadas, em Pombal, Condeixa, Foz do Arouce, Guarda, entre outros.
Conclusão
A Guerra Peninsular aproximava-se assim do seu fim: Em 1813 houve várias batalhas em Espanha e em setembro combatia-se já nos Pirinéus e em 10 de abril de 1814 a vitória aliada (espanhóis-portugueses-britânicos) em Toulouse sobre as forças de Soult poria um fim definitivo à Guerra Peninsular e a 13 de abril Napoleão renunciava e partia para a ilha de Elba.
Epílogo:
Massena escreveria sobre o soldado português: “inteligente, sóbrio, caminheiro, infatigável… pode emparelhar-se com os anglo-hanoverianos e excedê-los”.Beresford por seu lado escreveu: “as tropas portuguesas adquiriram a estima, a admiração e a confiança dos seus companheiros de armas e se tornaram dignas de fazerem honra às mais aguerridas”. Contudo, as fontes coevas indicam que o oficialato britânico tratava os soldados portugueses como “tropas auxiliares”, ou “indígenas” um pouco como os cipaios que eram usados tão profusamente na Índia pelo exército britânico.
Em 1812, o exército aliado tinha mais de 90 mil homens, dos quais metade era portuguesa e tinha combatido em 15 batalhas e sofrido mais de 21 mil baixas, um número que era complementado pelos 215 mil mortos civis, um número terrível numa população que na época não excedia as 2.8 milhões de almas.
Portugal perderia nesta guerra muito do seu património: grandes mosteiros como o de Alcobaça foram completamente saqueados e perderam-se para sempre inúmeras obras de arte. Até o material científico recolhido em várias viagens científicas ao Brasil, durante séculos, foram roubadas após terem sido minuciosamente catalogadas pelo naturalista francês Geoffrey de Saint-Hillaire que veio especialmente a Lisboa em 1808 para esse efeito e que foram enviadas para o Jardim des Plantes, em Paris.
Após a opressão francesa seguia-se a inglesa com os governadores com menos poderes que o vice-rei da Índia e Beresford contactando diretamente o rei e exaurindo o Erário com um exército desproporcionalmente grande. No Congresso de Viena, a França recusou devolver um tributo de 2 milhões de francos e Espanha recusou abandonar os anexados concelhos de Olivença e tudo isto porque a Grã-Bretanha ficara agastada com a recusa dos governadores em enviar tropas para a batalha de Waterloo…
O destino dos 3 comandantes das 3 invasões francesas foi bem diverso: Junot morreu louco, atirando-se de uma janela, para partir a perna e morrer de septicemia em 1813. Napoleão tinha-o nomeado governador de Veneza e depois das províncias ilíricas, mas o seu comportamento errático tinha levado ao seu afastamento destes cargos. Soult continuou a desempenhar altos cargos depois da queda de Napoleão, acabando a sua vida como um dos políticos mais influentes da Monarquia de Julho. Massena reconheceu Luís XVIII mas apoio Napoleão no seu regresso de Elba, com a derrota foi demitido e morreu em desgraça em 1817.
Portugal foi bastardo para a sorte dos melhores generais franceses. Estes grandes marechais estavam habituados aos grandes campos abertos da Europa central, onde a excelente artilharia e cavalaria francesa podiam exercer todo o seu poder, mas o terreno acidentado de Portugal desorientou-os e permitiu aos ingleses aplicaram a sua vantagem em táticas defensivas e na superior cadência de tiro da sua infantaria.
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