É por demais evidente que a longa, tortuosa, custosa e trágica “guerra contra o narco-tráfico” foi perdida. Perante tal constatação, os Governos de todo o mundo deviam começar a trabalhar na legalização das drogas leves. Essa é a minha convicção pessoal e a de uma comissão que produziu a mesma conclusão e que inclui vários antigos chefes de Estado e o antigo secretário-geral da ONU, Kofi Anan, entre varias outras personalidades.
A “Global Commission on Drug Policy” menciona os terríveis efeitos na criminalidade e nas sociedades do comércio clandestino de drogas e o facto de nunca num país este combate ter sido vencido, havendo apenas interregnos seguidos de transferências de sedes do narcotráfico, como sucede atualmente entre a Colômbia e o Peru.
Segundo o texto do relatório que sumariza as suas conclusões: “os líderes políticos e as figuras públicas devem agir corajosamente por forma a articular publicamente o que muitos afirmam em privado: que as provas demonstram de forma esmagadora que as estratégias repressivas não vão resolver o problema das drogas, e que a guerra contra as drogas não foi vencida e nao pode, nunca, ser vencida”.
Se a nível global – e teria que ser assim – vários ou pelo menos vários países limítrofes acordassem entre si na liberalização total do consumo e venda de drogas, o incrivelmente rico e poderoso submundo do narcotráfico seria destruído de uma só assentada e seria forçado a transferir os gigantescos capitais de que dispõe (muitas máfias da droga têm mais recursos do que os seus próprios governos) para a economia real. A legalização do comércio e do consumo faria com que de um dia para o outro, os preços e os lucros do narcotráfico se eclipsassem e taxando-os, os Estados recuperariam os recursos que depois poderiam investir em redes de recuperação de tóxico-dependentes e em campanhas informativas divulgando os malefícios do consumo de drogas.
A legalização radical do comércio e consumo de drogas não resolveria o problema do consumo, de certo. Mas esse problema (o verdadeiro, aqui) não se resolve pela repressão policial, mas criando sociedades mais justas e que abram mais oportunidades aos jovens para expressarem as suas capacidades… O fim da repressão não curaria milagrosamente nenhum tóxico-dependente, mas tira-lo-ía do mundo do crime (pela drástica queda dos preços das drogas) e daria aos Estados recursos (libertados da guerra contra a droga e da redução da criminalidade) para procurar curar muito mais pessoas das dependências. Baixaria também para níveis inéditos na História os níveis de criminalidade, já que se sabe que mais de 60% de toda a criminalidade radica precisamente no narco-tráfico ou em atividades ou necessidades a ele ligadas. Razões bastantes, para apoiar esta recomendação do “Global Commission on Drug Policy”.
Fonte:
http://www.msnbc.msn.com/id/43248071/ns/us_news-crime_and_courts/
Concordo e entregue a privados.
Tal como acontece na Holanda. A erva e pólenes são vendidos as miores de idade, em locais autorizados, em quantidades limitadas, com imposto sobre este tipo de produtos.
Nuns locais pode-se comprar e fumar mas é proibido o consumo de bebidas alcoólicas! Noutras bebe-se e fuma-se mas não se vende. Não rua não se pode fumar drogas nem beber álcool!
Tudo tem um local próprio. Aqui o Bairro Alto seria um lugar apropriado.
Mais receita para o Estado, menos mercado paralelo e o fim de muito traficante.
Apesar de nunca ter ligado a drogas, nem durante a adolescência, estive uns dias em Amesterdão e deu para ver como o holandeses lidaram inteligentemente com este problema.
um texto recentíssimo sobre a falência do ‘milagre holandês’, HSMW
http://www.economist.com/node/18867682?story_id=18867682&fsrc=rss
[…há mais de dez anos convivi com uma portuguesa já entrada na idade que vivera toda a vida na Holanda, e já na altura ela me dizia que o tão famoso ‘gedogen’ estava posto em questão antes de mais pelos próprios holandeses]
parceiro… continuo a achar toda esta discussão uma enorme bagunça
a ‘liberalização total do consumo e venda de drogas’ faz tanto sentido como – ou ainda menos que – ‘a liberalização total da compra e venda de órgãos’. exactissimamente sob as mesmas razões, ainda que suscitando reacções de análise diferentes
vir proclamar em ‘relatório’ que ‘as estratégias repressivas não vão resolver o problema das drogas’, julgo que apenas confirma a enorme descascadela de pevides que vai numa ONU muito mais esbanjadora que proveitosa […o que é tristemente lamentável]
nunca ouvi ninguém dizer que ‘as estratégias repressivas’ iam ‘resolver o problema das drogas’ !?
…aliás, da mesma forma, dizes – e bem – que as liberalizações também não têm a presunção de vir a ‘resolver’ nada
como em muitas outras lepras da sociedade, o droguismo só se estanca na fonte. e se não for aí, não o será nunca. não se vai lá com planos reactivos, sejam elas quais forem
só há um critério para o estabelecimento da ‘repressão’ de um Estado face a qualquer comportamento: a unânime condenação social do dito e a absoluta recusa da GREI em compactuar com ele
podia argumentar que se deixássemos totalmente de penalizar a violência doméstica, podia ser que todos aqueles machões que acham que afinfar nas companheiras é que é de homem, e que são perseguidos e noticiados ao mundo, passassem de repente a achar que sendo uma coisa considerada mundana e insignificante… não valesse a pena a selvaria
…podia argumentá-lo publicamente, não sei se com um mínimo de propriedade. mas tenho a certeza que teria logo um coro de gente a explicar-me como um Estado não pode ser simultaneamente conivente e cúmplice em comportamentos de fronteira. simultaneamente censor dos seus efeitos e directo beneficiário dos seus proveitos. não faz sentido
e a resposta de um Estado ao estado das coisas consumadas é materialmente distinta do investimento nas estratégias para impedir que esse estado se auto-alimente e auto-replique eternamente
e dentro das soluções míticas, aparece frequentemente ‘o preço’
…quando se a baixa do preço das drogas fosse solução, devia estar toda a gente neste momento aos pulos e não está. pelo contrário
http://diario.iol.pt/geral/cocaina-precos-droga-nacoes-unidas-comercio-agencia-financeira/1262579-5238.html
a política ‘portuguesa’, aos olhos de muitos, não passam de ‘inovadoras’. sem ser portadora de nenhuma loucura de resultados práticos
http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=271144
apenas as doenças correlativas estão a ser mais bem tratadas do que eram antes da ‘discriminalização’, e mesmo assim, com uma DÉCADA de experiência, o resultado apresentado está longe de ser famoso, ou se calhar sequer tão famoso como o de países menos ‘liberalizacionalicistas’
continuo a achar que há uma grande bagunça na discussão deste tema, confundindo-se causas, circunstâncias, consequências, factos, opiniões, ciências, fés… o que só ajuda a descentrar energias da sua resolução. aqui e por todo o lado
Mas a grande questao, Pedro, ‘e a de saber se a politica de repressao e combate seguida nos ultimos cinquenta anos produziu efeitos.
E ‘e impossivel dizer que sim. Sempre que se conseguiram “vitorias” elas foram locais e logo o polvo se transferiu para um estado fronteiro (ver Colombia/Peru).
Perante o fracasso da repressao e ilegalidade ha que ver mais alem e sem fazer julgamentos aprioristicos.
Se a repressao e a ilegalizacao nao funcionam, a opcao evidente ‘e o polo oposto: tolerancia e legalizacao.
Uma ja se sabe que nao funciona. A outra nao (e o caso holandes nao ‘e exemplo, pq estao rodeados de paises onde a droga esta ilegalizada).
Uma tal mudanca tao radical, teria que ser feita (como o fim dos offshores…) A uma escala regional ou mesmo global, para ter efeitos…