Nas últimas eleições legislativas bateu-se um triste recorde: nunca, desde 1976, se registou uma tão alta abstenção: 41%.
A abstenção na legislativas tem vindo a subir de forma constante, eleição após eleição, mas foi extraordinária nas últimas presidenciais (53%) e nas europeias de 2009 (63%!). Tais valores de demissão voluntária do exercício dos seus direitos e deveres de cidadania deviam levar os políticos da partidocracia à reflexão: Não estamos perante um puro laxismo ou desinteresse. O fenómeno, para que alcance tais níveis, tem que ter uma explicação sociológica e esta assenta – na nossa opinião – na generalização da crença de que as eleições, de facto, nada mudam.
Os partidocratas não tornaram estes valores de abstencionismo por aquilo que eles efetivamente são (uma crise terminal do sistema democrático) porque beneficiam com eles: quantos menos cidadãos votarem, mais pesa relativamente o voto dos boys e boyas e mais facilmente exercem aquele “rotativismo democrático” podre e estagnante que nos levou a este ponto pela via da oscilação pendular entre os dois “extremos” aparentes do bi-partido PS-PSD.
Se a política é cada vez mais o circo da partidocracia, onde os grandes partidos se confundem diferenciando-se apenas na específica e temporária fulanização do líder e na sua suposta “competência” para aplicar as ordens emanadas ademocráticamente a partir do centro-europeu, então, votar, de facto, muda muito pouco. O grande fator que propicia à abstenção é assim a irrelevância do voto e só devolvendo a relevância ao mesmo é que poderemos ambicionar a curar Portugal desta doença.
Nos índices internacionais, Portugal aparece particularmente mal colocado no índice “vida comunitária”: os portugueses – em média – fogem a participar em associações, movimentos, partidos políticos e raramente se empenham na via das suas cidades, ruas ou municípios. Se o fazem, é ao sabor inconstante dos interesses particulares e de curta duração, demitindo-se dessa vida cívica logo depois e regressando a uma modorra pacata e entorpecida de que só despertam na próxima “crise”.
Urge dinamizar todas as formas de cidadania: grupos de debate, intervenção comunitária, associações, movimentos cívicos e culturais (como o MIL), partidos políticos (especialmente os sem assento parlamentar) devem ser literalmente invadidos por forma a que todos tenhamos uma presença cívica RELEVANTE e que saíamos deste torpor que tanto convém aos “senhores da europa”, aos seus lacaios locais e ao bi-partido e à partidocracia. Invadamos a democracia por forma a poder salvá-la deste perigo terminal que representa a explosão constante e crescente da Abstenção e dos interesses que com ela diretamente beneficiam.
Fonte:
http://www.publico.pt/Pol%EDtica/abstencao-atinge-valor-recorde-na-historia-das-legislativas_1497641
Comentários Recentes