
Irlanda (http://rikardotavares.com)
“Querido Portugal, daqui é a Irlanda. Em primeiro lugar, deixa-me ensinar-te uma coisa sobre as nuances da língua inglesa. Dado que o inglês é a tua segunda língua, poderás pensar que as palavras bailout (resgate) e aid (ajuda) deixam entender que terás o auxílio dos nossos irmãos europeus para ultrapassar as atuais dificuldades.
O inglês é a nossa primeira língua e também pensávamos ser esse o significado de bailout e aid. Permite-me que te alerte que não só este bailout – que te será imposto como uma inevitabilidade – não te vai resolver os problemas, como irá prolongá-los para as gerações vindouras” (…) “quando pegares no dicionário, consulta ‘empréstimo’, ‘usura’,’crédito subprime’ e ‘roubalheira’. Isto dar-te-á uma noção mais exata daquilo que te vai acontecer”.
The Independent (Irlanda)
Ora bem. Eis soberbamente resumida a vara de três bicos em que estamos metidos: Os nossos “amigos” europeus não nos dão liberdade para adotar somente a intervenção do FMI – que é menos gravosa – e exigem condições draconianas que arrastarão o país para uma intensa e longa recessão não porque queiram “o nosso bem”, mas porque as suas opiniões públicas querem sangue, o nosso sangue. Querem “castigar-nos”, não querem sanear as finanças públicas nem criar as bases de uma economia saudável e dinâmica. Para os europeus do norte se permanecermos um país de sol e praias, tudo bem. Os preços do turismo continuarão baixos e continuaremos a comprar (mas menos) as suas tralhas, desde os Nokias da soberba Finlândia, aos Audi da arrogante Alemanha, passando pelas aparelhagens Philips e outra cangalhada.
Portugal devia ter líderes à altura da exigência tremenda que o momento impõe: líderes capazes de dizer “não” aos “donos” da Europa e de usar as armas que temos para exigir o apoio que merecemos: sair da Europa e do Euro. Fechar fronteiras, nacionalizar empresas europeias, repor taxas alfandegárias, tudo devia estar sobre a mesa nestas “negociações” que agora decorrem e que, pelo contrário, mais parecem “imposições” que outra coisa, tal é a atitude pífia com que os nossos representantes se apresentam perante estes tristes contabilistas sem imaginação da Troika FMI/BCE/UE que nestes dias nos visitam…
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