As quantias que foram emprestadas às economias deficitárias de Portugal, Espanha, Itália e Grécia nos últimos anos para que estas mantivessem padrões de consumo muito superiores às suas reais capacidades aquisitivas foram tremendas. Os países exportadores agradeceram estes endividamentos crescentes porque assim os seus Bancos e empresas exportadoras puderam acumular lucros igualmente crescentes. Nesses anos não se queixaram do endividamento crescente dos países do sul.
Por isso, quando os sabujos da Comissão Europeia rejeitam a (justa) pretensão grega de reestruturar a sua impossível-de-pagar dívida externa ficamos a pensar porque é que os credores e aqueles que lucraram com esses créditos também não podem assumir algumas consequências de terem emprestado dinheiro sem nenhum critério de racionalidade ou de bom senso.
Se a responsabilidade por um empréstimo mal concedido deve ser repartida entre emprestador e recetor então porque devem todas as más consequências recair apenas sobre quem recebeu esses empréstimos? Se o Juro (elevado) premeia o Risco, porque é que este é nulo para os banqueiros, especuladores e empresários e tremendo para todos os cidadãos dos países do sul? Onde está a justiça neste desfasamento flagrante?
Fonte:
http://www.agenciafinanceira.iol.pt/economia/bruxelas-rehn-grecia-divida/1245510-1730.html
Acho que ainda não perceberam que o ónus da culpa não pode ser colocada na entidade que empresta, mas sim na entidade que contrai a dívida. No dia-a-dia como é que funciona o sistema de empréstimos? Quando se trata de Estados a história não é muito diferente. Se lhe dissessem que o seu vizinho comprou uma casa que não pode pagar e que para isso andou a falsificar contas e arranjar subterfúgios legais para o poder fazer, você achava que a culpa era de quem emprestou dinheiro? É que foi isso que o Estado português andou a fazer.
Nao, o onus tem que (deve) ser repartido entre quem arrisca (o que moralmente justifica o lucro) e quem recebe. Com estas ajudas ‘a Banca e estas fugas ao renegociamento ou ‘a bancarrota anula-se o risco dos emprestadores ‘a custa dos restantes agentes e isto nao ‘e nem moral nem justo.
Quando vai pedir dinheiro ao seu banco não assina um documento em que se compromete a cumprir com o estipulado? Ninguém o obrigou a assinar nem sequer a pedir emprestado… se você não cumpre o estipulado o ónus da culpa está do seu lado. Se a entidade que empresta o dinheiro não cumprir o contracto pode e deve colocar essa entidade em tribunal e exigir os seus direitos porque o ónus da culpa está do lado de quem entra em incumprimento. Portugal é um país soberano e responsável pelas suas contas. Temos de parar de andar a encontrar desculpas por todo o lado e começar a assumir responsabilidades.
Nao procuro desculpas, mas tento ver para alem da esteril letragem desse contrato: a parte que empresta corre riscos, ou deve corre-los. ‘E assim com qualquer empresa ou empreendedor, porque nao pode falir um Banco que foi mal gerido? Porque tem que ser salvos ou seus gestores e acionistas dos seus erros de gestao? Porque nao podem assumir uma quota parte no risco que ha sempre em qualquer empreendimento?
A banca andou a comprar a dívida pública portuguesa para tentar acalmar os credores. Portugal não é a Irlanda nem a Islândia. A nossa dívida não apareceu por causa da nacionalização do BPN nem das ajudas a alguns bancos. Isso foi só mais um prego no caixão. Mas tomara nós que o nosso problema de dívida soberana fosse só esse!
Pois nao… O nosso problema ‘e muito mais grave e prende-se com a evaporavao do nosso tecido produtivo desde os “tempos aureos” do cavaquismo, da desregulacao de fronteiras e do vicio consumista que contaminou muitos de nos.
http://economico.sapo.pt/noticias/portugueses-deviam-recusarse-a-pagar-divida-do-estado_116786.html
http://economico.sapo.pt/noticias/troika-vai-demolir-proteccao-de-trabalhadores-portugueses_116905.html