José António Saraiva (http://www.dn.pt)
“Num período histórico muito curto, sofremos fortíssimos abalos: o fim do império, a entrada na CEE e a aceleração da globalização. O fim do império fez de Portugal um país minúsculo, reduziu-nos os mercados e o espaço estratégico, provocou a perda de matérias-primas.
A entrada na CEE teve como consequência a destruição de boa parte das nossas empresas industriais, postas em competição com empresas muito mais fortes, contribuindo também para o declínio da nossa agricultura e das nossas pescas.
A globalização, pelo seu lado, afasta cada vez mais de nós o capital estrangeiro que emigra para outras paragens à procura de condições mais favoráveis.
(…)
Com ou sem recurso a ajuda externa, vai ser preciso baixar salários, cortar despesas sociais, flexibilizar o mercado laboral, reduzir os gastos do Estado e diminuir os impostos, libertando capitais para a iniciativa privada (o único modo de fazer crescer a economia).”
José António Saraiva
Sol 18 de março de 2011
Portugal gasta todos os anos mais 10% daquilo que produz. Este desequilíbrio só tem sido sustentado por décadas de crédito barato, resultantes da integração no Euro mas agora – com a crise da Dívida Soberana – esses dias chegaram ao fim. O ajustamento pós-colonial que nunca chegámos a fazer devido ao súbito e malsano afluxo súbito dos fundos europeus tem agora que ser feito: de forma apressada e provavelmente muito danosa para a nossa qualidade de vida a curto prazo.
Quiseram convencer-nos de que éramos ricos, tão ricos como os alemães ou os dinamarqueses, com o crédito barato, e que era possível fazer sustentar toda uma economia sobre os “serviços” e sem indústria nem agricultura. Viu-se agora que não. E pagamos já muitos de nós o preço do Desemprego e brevemente todos (de uma forma ou de outra) pagaremos também o preço de uma severa redução de rendimentos.
O ajustamento será feito, de forma inexorável e inevitável, apesar de todas as demagogias e demagogos. Iremos passar a consumir muito menos e a importar menos simplesmente porque não podemos pagar esses luxos dispensáveis… mas seremos capazes (e deixar-nos-ão) reconstruir o tecido produtivo que vendemos à Europa a troco de subsídios e de crédito barato? Essa é que é a verdadeira questão… aquela que pode encerrar em si mesma a superação da crise ou a transformação do país num “Estado Falhado”, encravado num canto da Europa.
Comentários Recentes