
Antero de Quental (http://www.iscsp.utl.pt)
“Portugal expia, com a amargura deste momento de humilhação e ansiedade, 40 anos de egoísmo, de imprevidência e de relaxamento dos costumes políticos – 40 anos de paz profunda, que uma sorte raríssima nos concedeu e que só soubemos malbaratar na intriga, na vaidade, no gozo material, em vez de as aproveitarmos no trabalho, na reforma das instituições e no progresso das ideias.”
Antero de Quental em 1890
citado em Revista Nova Águia
Número 6
Quando leio estes textos sobre a situação do país há cem anos atrás, seja antes, seja depois, da implantação da República, fico sempre com uma certa sensação de “Deja Vu”… É como se nada de realmente substancial tivesse mudado no nosso país durante todo este tempo e após não uma, mas três “repúblicas” sucessivas… ao ingovernismo e instabilidade crónicas da Primeira República, seguiu-se a estagnação e o tacanhismo bacoco do Salazarismo e, agora, sob a regência da Terceira, temos o Clientelismo, a Corrupção e o Sacrossanto Rotativismo.
Porque nas mudou – no essencial – o nosso Portugal depois desta experiência secular de republicanismo? Porque os seus agentes da mudança – no essencial – não mudaram… vejam-se os nomes de família dos primeiros republicanos e, até, dos seus opositores monárquicos. Na imensa maioria, as famílias que eram influentes no tempo de Antero de Quental, continuam hoje a serem influentes na Política, na Economia e nas Finanças. São os mesmos. Os mesmos baronetes medíocres da monarquia, os mesmos deputados republicanos, os mesmos intelectuais, os mesmos, em suma.
Um país é aquilo que são as suas elites. Quando estas são incompetentes, incultas, egoístas e desprovidas de qualquer sentido de Bem Comum, de Serviço Comunitário ou de Cidadania, temos um país desigual, injusto e com uma democracia formal e de baixa qualidade. O que somos – enquanto país – é que a nossa elite é.
Este ciclo vicioso pode ser centenário, mas não é eterno… pode ser quebrado, quebrando a influencia ditatorial e exclusivista que esta elite (que no Parlamento assume a forma de Partidocracia) detém sobre a sociedade portuguesa. Apesar do domínio quase total dos meios de comunicação, é possível expulsar esta corja do seu altaneiro poleiro… pela derradeira via que resta aos povos para a renovar: a eleitoral. Assim haja sabedoria, ensejo e capacidade para o fazer, numa sociedade de escravos longamente condicionados para o serem e onde as oportunidades para furar o sistema são particularmente raras.
Antevi em fevereiro de 2010 uma dessas raras janelas de oportunidade na candidatura presidencial do Dr. Fernando Nobre: um Homem verdadeiramente exterior a esta corja que sequestrou a República, sempre disponível para cumprir os maiores sacrifícios e competente, culto e inteligente, como o são muito poucos partidocratas (dulcificados por décadas de segurança e confortos nababianos). A eleição de janeiro de 2011 é assim uma das daquelas raras janelas de oportunidade em que pela via eleitoral algo pode ser efetivamente mudado… assim o saibamos fazer. E o queiramos… o que é duvidoso.
(foi um percurso interessante o das Presidenciais, e observar como te empenhaste – com muitos a teu lado – numa solução que te parecia abrir essa janela de oportunidade. mesmo discordando, achei civicamente bonito)
amigo Rui, ainda que concorde com absolutamente todos os pontos que marcas, não me parece lógico considerá-los num mesmo raciocínio
se 1 – Portugal está paralisado pela inércia dos seus eleitos e sistema que os elege;
e 2 – precisamos de introduzir uma quebra radical num ciclo que se eterniza;
como 3 – ‘expulsar esta corja do seu altaneiro poleiro… pela derradeira via que resta aos povos para a renovar: a eleitoral’?
se os agentes são os mesmos, se os seus grupos de influência são os mesmos, se os processos de os eleger são os mesmos, o que se espera dentro de meses?
…que apareçam novos partidos até Junho?
…que – por milagre – apareçam pessoas nunca vistas nos partidos existentes?
…que haja uma expressão em urna – milagrosa e inútil – do desagrado dos potugueses através do recurso ao voto branco ou nulo?
nenhuma delas parece viável, ou mesmo que viável sequer proveitosa
daí concordar com a tua revolta, mas não partilhar de todo a esperança numa luz saída das próximas eleições
…até por saber(-mos) que a última palavra dos povos não está encerrada (feliz ou infelizmente) na expressão do seu voto em urna, quando a ‘democracia’ exalou pestilenta o seu ultimo fôlego
FINLÂNDIA
http://www.ionline.pt/conteudo/113267-islandia-o-povo-e-quem-mais-ordena-e-ja-tirou-o-pais-da-recessao
…mas sabes o que me entristece quase às lágrimas? saber do nível de lucidez e hombridade deste homem e como ele veio a terminar
vale o preço da luta uma vida?