Por vezes, dizem-me que “não gosto de Espanha”. Nada mais incorreto. Não aprecio esta Espanha centralista, unitária e excrescente de Castela que se transferiu para Madrid desde o Franquismo e que a erupção da monarquia parlamentar não fez mais que moderar.
Detesto a Espanha que tentou forjar uma “espanholidade” à custa de tudo e de todos, nomeadamente pela asfixia cultural e linguística dos povos que senhoriou e que busca hoje definitivamente acultural.
Admiro e anseio por uma Espanha onde se possam contar todos os povos da Ibéria, lado a lado e em situação de absoluta paridade. Por uma Espanha onde todas as derivas centralistas (de Madrid e Lisboa) sejam condicionadas às legítimas aspirações de liberdade, independência, identidade nacional e autonomia de todos os povos hispânicos.
Muita gente tem a ideia incorrecta que a dissolução do Estado espanhol seria benéfica para Portugal. Nada mais errado.
Na sua longa história, Portugal subsistiu sempre face ao estado espanhol e só foi temporariamente integrado neste por casamento de uma rainha (outra razão porque não sou monárquico) e por influência do clero. Quando o povo português quis retomar a sua independência e a sua dignidade, pois tomou-a nas suas mãos ( e até na ponta de uma pá de uma famosa padeira). Presentemente vivemos uma parceria diria até irmanada. E quando eles nos “invadem” no actual caso, economicamente, é porque nós deixamos ou porque não fomos suficientemente bons para o contrariar.
No entanto o actual desmenbramento de Espanha acarretaria novos cenários muito problemáticos como por exemplo a união da Galiza com o norte do Douro. Juntem-lhe também todos os traumas não sanados da guerra civil espanhola.
Temos de nos lembrar do que aconteceu na Juguslávia. Estes processos sabem como se começam mas nunca se sabe como vão acabar.
Portugal tem que se afirmar pela sua grandeza própria e não pela diminuição da dos outros.
“Não aprecio esta Espanha centralista, unitária e excrescente de Castela”
> Ainda que de Espanha “nem bons ventos, nem bons casamentos”, acho que odiar, detestar é exagerado. Acho que Castela não devia forçar os bascos, os catalães e os galegos a permanecerem sob seu domínimo e nem permenecerem falando em castelhano. Após a independência, os três podem continuar usando o castelhano como uma língua estrangeira comercial, tal como o inglês.
“No entanto o actual desmenbramento de Espanha acarretaria novos cenários muito problemáticos como por exemplo a união da Galiza com o norte do Douro.”
> Não é tão simples assim. Não é apenas a independência da Galiza em relação a Madrid que faz Portugal correr o risco de perder o Norte. A insatisfação nortenha com Lisboa é um motivo maior ainda para que o Norte do Douro se desligue de Portugal e se una a Galiza. O que Lisboa tem que fazer, e ceder os subsídios que a UE envia para ser investido no interior de Portugal, e não concentrar em si mesma, como alguns jornais portugueses têm afirmado na internet.
“Detesto a Espanha que tentou forjar uma “espanholidade” à custa de tudo e de todos, nomeadamente pela asfixia cultural e linguística dos povos que senhoriou e que busca hoje definitivamente acultural.
Admiro e anseio por uma Espanha onde se possam contar todos os povos da Ibéria, lado a lado e em situação de absoluta paridade. Por uma Espanha onde todas as derivas centralistas (de Madrid e Lisboa) sejam condicionadas às legítimas aspirações de liberdade, independência, identidade nacional e autonomia de todos os povos hispânicos.”
> Acho que não seria bom para Portugal interferir em favor dos catalães e bascos, contra Castela. Deve apenas reinvindicar Olivença. Quanto a Galiza, vai do Estado português decidir se vale a pena apoiar, se deve tentar convencer os galegos a se unirem à Portugal ou apoiar a independência galega em troca de que os galegos deixem o Norte do Douro permanecer português, não reinvindiquem terras de Portugal…
Não defendo a interferência de Portugal no que se passa em Espanha. De modo algum.
Defendo que os povos de Espanha devem ser livres para poderem decidir do seu destino e que o processo de aculturação deve ser abandonado…
Se depois de decidirem (se decidirem) deixar a Espanha, serão bem recebidos, não em “Portugal”, mas naquela federação de povos livres e independentes que acredito que devia ser a Península.