As guerras do futuro não serão as guerras do petróleo de hoje, mas guerras de alimentos. A aparição de fontes de energia renovável irá multiplicar-se nas próximas décadas e os países que conseguirem exportar mais alimentos serão cada vez mais importantes na cena diplomática internacional, como, de resto, acontece cada vez mais com o nosso irmão lusófono, o Brasil.
Neste contexto, a notícia do continuado declínio da produção cerealífera portuguesa é trágica. Quando devíamos estar a aumentar a produção eis que a produção nacional de cereais de Outono-Inverno foi uma das “mais baixas das últimas décadas” tendo descido um quinto em relação a 2010.
Esta queda de produção resulta da redução das áreas semeadas e de uma quebra notavel de produtividade. As causas para esta redução são climáticas e são idênticas à quebra na produção de outros produtos agrícolas como a batata ou o tomate.
Ainda que possam haver explicações de ordem climática – e logo conjunturais – para explicar este decréscimo, existe também uma sério e continuado desinvestimento no mundo rural que para além de qualquer situação climática transitória explica esta redução na produção agrícola. Desde o tempo do primeiro governo Cavaco Silva, que se assumiu como orientação estratégica dominante a transformação da economia portuguesa de uma economia produtiva, com um setor de indústria ligeira e agrícola muito forte, numa “economia de serviços” onde predominava o Turismo e o setor Financeiro. Em nome desta estratégia suicidária destruiram-se muitas culturas, abateram muitos barcos à frota pesqueira e encerraram-se muitas fábricas. Rapidamente, esta baixa de produção foi “compensada” por importações de Espanha, para grande gáudio dos nossos “vizinhos” que assim justificaram o desvio da água dos nossos rios para alimentarem a sua culturas de regadio que produziam para o nosso mercado, com a água que nos roubavam. Portugal, entretanto construia balcões de Bancos em cada rua (tendo por vezes mais que uma filial do mesmo banco na mesma rua), construía as famosas “auto-estradas do cavaquismo” para que os espanhóis pudessem colocar nos hipermercados os seus produtos a preços capazes de destruir muitas explorações agrícolas nacionais e autorizava a construção desregada de hotéis em praticamente todos os locais onde esta era requerida.
Este é o país onde queremos viver e que queremos legar aos nossos filhos? Um país “de serviços”, desertificado no seu interior, desprovido de produção agrícola ou pesqueira e totalmente dependente de importações, enquanto o crescimento do défice comercial o permitir? Queremos um país dependente ou independente? Se queremos ser algo mais do que uma mera dependência de Madrid e sofrer as mesmas agruras anexionistas de que padecem os nossos irmãos galegos, então estamos na via certa. Se nao queremos, então há que regressar aos Campos e em força, contra Bruxelas e Madrid, se necessario e a favor da sobrevivência das gerações futuras.
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