Recentemente, falando no III Congresso de Economistas, Fernando Nobre, da AMI, classificou como “completamente intolerável” a posição dos dirigentes das associações de empresários que se declararam contra qualquer aumento do salário mínimo.
Fernando Nobre questionou a plateia formada por empresários e economistas sobre se algum conseguiria viver com 450 euros por mês e questionou os números oficiais que dizem que em Portugal existem “apenas” 18% de pobres, acreditando que o número real será mais próximo de 40%.
O problema estrutural do país é assenta nos baixos rendimentos dos jovens e no desemprego crónico da população ativa com mais de 40 anos. Fenómenos gritantemente contraditórios com as remunerações acima da média (no quadro europeu) dos gestores nacionais. Há que encetar a batalha da redistribuição dos rendimentos, como forma de recriar a classe média que se está agora a perder e de travar as vagas migratórias que levam hoje cem licenciados por dia a buscarem no estrangeiro soluções para as suas vidas. Com a saída deste tremendo capital humano, o país perde todo o investimento que nele aplicou, durante os longos anos em que foram formados pelo sistema de ensino público e o país deixa sair os seus elementos mais empreendedores e dinâmicos.
Fernando Nobre aludiu igualmente aos gestores que se auto-atribuem “prémios de gestão” generosos no mesmo momento em que as suas empresas atravessam crises e despedem funcionários.
O final da intervenção do presidente da AMI foi direcionado para os jovens que estavam presentes na assistência: “Não se deixem acomodar. Sejam críticos, exigentes. A vossa geração será a primeira com menos do que os vossos pais”, o que não é já um simples exercício de adivinhação, mas uma realidade concreta e presente nos dias de hoje. Quantos jovens adiam hoje indefinidamente a saída de casa dos pais e a constituição de família até bem para além dos trinta anos apenas porque não conseguem encontrar empregos estáveis e mais bem remunerados do que o salário mínimo? Quanta da nossa declinante demografia não encontra aqui as raízes do problema? Dizem-nos os economistas que não é possível aumentar o salário mínimo devido às pressões da China nem à baixa produtividade dos portugueses. Mas a solução não é estagná-lo ou até reduzi-lo, a solução é agir de forma dupla contra o “dumping” laboral e ambiental chinês, reaplicando taxas aduaneiras que reponham a sã competição e parem com a desindustrialização do mundo a favor da China e re-localizando as nossas economias. E o problema da baixa produtividade tem que ser atacado no cerne: nos gestores e nos métodos de gestão, não nos baixos salários que não farão mais do que camuflar esse problema…
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