Estão criadas todas as condições para que 2010 venha a ser para Portugal um ano ainda mais difícil do que 2009. O Desemprego deverá ultrapassar os 15% e o Governo já não tem a escassa “rede orçamental” que conseguiu ter no ano passado… A governação por minoria será capaz de reger o destino de um país que atravessa a maior crise económica das últimas décadas e que terá para o ano a maior taxa de desemprego JAMAIS registada em Portugal?
Os níveis galopantes do endividamento público parecem impor o estabelecimento de medidas de contenção orçamental draconianas, as últimas agora possíveis depois do agravamento desbragado da carga fiscal pelo primeiro Executivo de Sócrates e depois da venda de património do Estado pelo governo PSD Fujão Barroso-Ferreira Leite. Assim, quando a CIP vem alertar para a necessidade do regresso de medidas como aquelas que o FMI impôs em Portugal na década de 80 é difícil não concordar com os patrões portugueses…
O próximo ano tem todas as condições para ser economicamente ainda mais difícil e para, consequentemente, ser um ano de grande contestação nas ruas, com greves nos setores onde estas ainda são possíveis (Estado e empresas públicas) e com um agravamento da pressão dos empresários sobre os direitos laborais e humanos dos seus funcionários, potenciado pela redução das facturações e pelo agravamento do Desemprego.
Em tal ambiente, mandaria o bom senso que Governo e oposição se metessem de acordo e estabelecessem não uma coligação, mas pelo menos um “pacto de regime orçamental”, isto é, um consenso que permitisse erguer um orçamento que fosse do acordo do bi-partido que nos rege com tanto (in)sucesso desde 1976, mas que permitisse ao Governo pelo menos alguma folga até que a recessão amaine nos nossos principais parceiros comerciais e, sobretudo, em Espanha. Este orçamento tem que ser realista e contido, sem as loucuras despesistas do “novo aeroporto” nem do TGV e prioritizar a saúde das contas públicas e, sobretudo, a dívida das empresas publicas.
Como bem sublinham os gestores privados, de João Salgueiro a Ferraz da Costa, Cavaco Silva, eleito precisamente pelos seus supostos pergaminhos como “economista” recolhe uma parte da culpa pelo estado das finanças públicas e pelo endividamento da República por “não ter contribuído para o esclarecimento dos grandes problemas estruturais das Finanças Públicas e da economia portuguesa”. O seu silêncio e demissão de responsabilidades neste assunto (acrescidas agora que estamos num governo minoritário) e em tantos outros com os silêncios majestáticos ou seráficos a que nos habituou representam uma demissão das suas responsabilidades e deveres enquanto PR e justificam a sua impopularidade recorde.
Portugal não pode continuar com a dívida pública – direta e indireta – acima de 100% e com o endividamento externo na vizinhança dos 100% do PIB. Esta situação ameaça o rating do país e aumenta os juros que o país tem que pagar quando contrai empréstimos no exterior. Há que agir assim em duas vias: reduzir draconicamente os empréstimos ao exterior e para isso a interrupção de todas as obras faraónicas é imperativa e reduzir as importações e para isso ou se congelam os salários (o meu está congelado há 3 anos) ou todos reduzimos os nossos níveis de consumo de produtos importados, preferimos nas nossas compras uma “escolha consciente” e privilegiamos produtos nacionais, ecológicos e sustentáveis, preferencialmente locais. Cortar para sobreviver, enquanto concentramos as importações nas muito mais meritórias importações de ferramentas e bens que nos libertem da dependência das importações. É preciso relocalizar a nossa indústria, reavaliando a reinstauração de um “neoprotecionismo” ético e que reponha a justiça em práticas de dumping laboral e ambiental e que em simultâneo sirva para repor a produção industrial nacional assim como o equilibro da Balança de Pagamentos.
Fonte:
http://dn.sapo.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=1449883
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