Já há muito tempo que dizemos e escrevemos que o discurso mais ou menos “nacionalista bacoco” que considera que Portugal deve fechar as portas a toda a imigração é estúpido. Com isto, não quero dizer que todos aqueles que o mantêm sejam estúpidos, mas que o seu discurso o é, porque escamoteia um factor essencial para a sociedade portuguesa que é o da nossa anémica demografia. Com efeito, é o próprio Instituto Nacional de Estatística (INE) que admite que o “crescimento efectivo da população em Portugal está muito dependente da imigração” e que “a pequena subida registada em 2008 face a 2007 relaciona-se com o abrandamento do número de estrangeiros residentes”. Ou seja, não há condições para crermos que as pífias medidas de incentivo à natalidade propagandeadas pelo Governo PS em 2007 e 2008 estiveram na base desta suposta recuperação demográfica já que “No crescimento natural, a diferença será muito pequena e no crescimento efectivo a diferença tem a ver com o abrandamento da imigração”.
Portugal continua assim no rumo da evaporação demográfica a que apenas a imigração pode dar satisfação provisória. A fecundidade de 1,3 de crianças por mulher (confirmada pelo INE) é estável desde 2007 e deverá descer ainda mais em 2009, devido à recessão (que adia a decisão de terem filhos a muitos casais) e aos números de desemprego reais (que há muito já bateram o número de 600 mil pessoas). Isto significa que o desequilibro entre ativos e pessoas fora do setor produtivo irá agravar-se nos próximos anos, que o sistema de reformas será cada vez mais ameaçado e que será cada vez mais difícil no futuro próximo encontrar pessoas em idade ativa para preencher os postos de trabalhado que forem surgindo… Após uma economia em que os jovens são subremunerados e precarizados de forma crónica, teremos um oposto em que serão preciosos e bem remunerados, mas esmagados sob cargas fiscais tremendas para sustentarem uma desproporção crescente de idosos… Solução? Começar já a investir em políticas demográficas realmente eficazes e duradouras e ir preenchendo o tempo (longo) em que estas demoram a ser eficazes com correntes migratórias saudáveis e de qualidade.
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