“As nações pequenas só podem opor às tendências absorventes das grandes nações, como defesa da sua independência, o caracter, a originalidade do seu espirito ativo e criador, a autonomia moral.
Ora, a nossa Pátria possui felizmente essas qualidades que se ergueram, outrora, quais sentinelas invencíveis, ao longo das nossas fronteiras, e se espalharam depois através dos vastos mares e das longes terras. O que é preciso, antes de tudo, o que é urgentíssimo, é ressuscitá-las, para que readquiram a perdida atividade.”
Explicando-se assim porque é que Portugal conseguiu realizar esse milagre – único à escala peninsular – da independência contra uma vontade centralizadora de Espanha e antes dela, de Castela. O espirito criador, que deu a Portugal os instrumentos para na Idade Media estar ao mesmo nível das demais sociedades europeias e para alavancar a revolução tecnológica, astronómica e naval que teria a sua máxima expressão na espantosa gesta dos Descobrimentos e da Expansão portuguesa. É esta devoção pela liberdade municipal, pela criatividade e pela invenção, pela ciência, enfim, que importa reencontrar, de forma a ressuscitar (nas palavras de Pascoaes) e sair deste limbo torpe e pantanoso em que erramos desde 1580.
“A decadência que sucedeu ao período épico ou camoniano (anterior a Camões) apagou, por assim dizer, o espírito português, preparou a invasão do estrangeirismo desnacionalizador que revestiu vários aspectos, religioso (Inquisição no tempo de Dom João III e o Jesuitismo); literário e político (Constitucionalismo e livros franceses).”
A derrota das hostes portuguesas em Alcácer Quibir, a decapitação das forças vivas da nação e a exaustão financeira decorrentes da derrota de uma campanha insana, mal conduzida e logo aproveitada pela sempre atenta Espanha para deitar as suas garras anexadoras. O espírito religioso português perdeu as réstias de liberdade que lhe restavam ainda dos excessos manuelinos e das vagas intenções de instalar Paris na Praça do Rossio. Para que Portugal possa retomar o rumo perdido e sacudir o jugo anexador que nos têm tentado lançar por várias vezes. Esse regresso, essa verdadeira “Renascença” só pode ser realizada através de uma aposta intensa, continuada e prioritária na Educação e nela, na sua componente mais ligada à investigação, cientifica e à produção cultural. Será pela via de uma aposta na Educação, de teor verdadeiramente exigente e com uma constante preocupação sobre a criatividade em desfavor da mera memorização estéril que Portugal pode reencontrar o seu verdadeiro espírito e mostrar à Europa aquilo que ela pode ainda vir a ser, formando com o Brasil o protótipo de uma União Lusófona não unida pelo dinheiro e pela contabilidade, como a Europa dos “senhores do norte”, mas uma nova forma de organizar as gentes e as economias, mais justa e humana.
“O alto clero sempre foi fiel a Roma, os altos políticos sempre fiéis a Paris, têm sido os obreiros da nossa desnacionalização, os inimigos do nosso espírito e, por isso, da nossa independência.”
Atual… O pensamento do génio do Marão (como lhe chama Paulo Borges) reconhece com acutilância os dois pólos por onde se tem exercido o duplo movimento desportugalizador dos últimos quinhentos anos. A Igreja Católica não se tem poupado a esforços para, primeiro, destruir os vestígios de religiosidade pré-romana, ctónica e matriarcal popular e ainda que esse esforço tenha diminuído em eras mais recentes, a ascensão ao patriarcado de alguém como Ratzinguer demonstra que os antigos fantasmas que levaram à Inquisição e ao Índex de livros proibidos, são tique totalitários que ainda não desapareceram completamente…
“E há mesmo pseudo-cépticos que não crêem na existência duma alma portuguesa original; mas esses homens são cépticos e os cépticos são feitos de carne morte.”
No sentido em que não sendo capazes de escutar o apelo libertário e criador que emana das suas próprias almas lusófonas, estes cépticos são incapazes de serem fiéis às suas próprias pulsões e tendências anímicas. No seu vã afã de procurarem imitar ou emular os povos do norte da Europa, de se “estrangeirarem”, renegando a especificidade da sua alma portuguesa, acabam por se desalmar, anular a sua identidade pessoal e recusando a própria viabilidade de Portugal como Nação independente e absolutamente diversa de todas as outras no mundo, excepção feita apenas para o Brasil e, em certos aspectos para Israel. Com efeito, os portugueses nunca serão bons “alemães” ou “ingleses”. Se pretendem que os emulemos, então terão sempre em nós pálidas e ineptas cópias destes neo-germânicos. Pelo contrário, os portugueses sempre se excederam quando se assumiram verdadeiramente como “portugueses” e rejeitaram a integração em nações mais fortes e extensas, como a Espanha dos Habsburgos, a França de Napoleão ou a Grã-Bretanha de Beresford. Todos os que nos quiseram lançar o seu jugo, acabaram por o ver deitado no chão, por muitos cépticos que conseguissem alinhar, quer pagando-les soldada, quer seduzidos pelo brilho das “Luzes” do centro da Europa.
Comentários Recentes