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“Com o mar a coisa correu perfeitamente. Fez-se aquilo que se podia e devia fazer: dar ao Homem a noção de Humanidade plena (que ate aí o que tinha sido a Humanidade? Uns primos a encontrarem-se na praça pública de Atenas ou no fórum romano… Isso é que era para eles a Humanidade, o resto eram Bárbaros…). Com os portugueses lançou-se outra ideia de Humanidade: uma Humanidade plural de cor, plural de culturas, que ainda não se assimilou perfeitamente; ainda ninguém digeriu muito bem a descoberta que Portugal fez…”
A visão de Agostinho da Silva toca aqui num ponto essencial: a grande missão histórica de Portugal, já anunciada, mas apenas parcialmente cumprida, que foi a de re-ligar os povos e as civilizações que antes se encontravam apartados pela geografia. Ora é certo e comprovadamente reconhecível que se esta missão não pôde ser plenamente realizada no passado tal sucedeu porque no século XVI a ânsia e a vontade de estabelecer laços e pontes entre os povos e as culturas foram vencidas pelo mercantilismo e pelo materialismo importados a partir do norte da Europa e, sobretudo, pela adopção de conceitos exógenos a partir do norte da Europa.
Se Portugal tem realmente esse supracitado papel histórico ainda por concretizar e se esse papel é o de reunir os povos do mundo, então este tem que ser realizado potenciando novas e revolucionárias formas de integrar os diferentes Estados do mundo em novas entidades trans-nacionais com formas inovadoras e desprovidas das meras congregações de interesses militares e económicos que caracterizam as NAFTAs ou a União Europeia da atualidade. Por outro lado, Portugal, sendo um país de escasso poder militar e raras aspirações estratégicas e económicas não poderá jamais captar os mesmos anticorpos que algumas grandes nações, as quais, com aspirações globais, mais ou menos “neoimperialistas”, atraem. Portugal não é a China, nem os Estados Unidos e tão pouco uma a Alemanha ou o Reino Unido. Esta diferença, encarada tantas vezes como um defeito ou um problema inultrapassável é vantagem, bastando para tal encarar de frente esta faceta da nossa demografia e geografia, sem vergonhas, nem falsos pudores.
Por isso, paradoxalmente, é a pequenez geográfica, económica e demográfica de Portugal – assim como a unicidade da sua História – que o torna ideal para formar o núcleo fundador de um novo tipo de “união política” de diferentes países e gentes: ninguém pode temer – no seu melhor juízo – um anacrónico “imperialismo português” e por isso há uma muito palpável e realista possibilidade para realizar essa ideia plural de Humanidade do Professor Agostinho: uma União de gentes, não baseada no estéril economicismo ou no fátuo interesse estratégico, mas na Cultura e na Língua e fundar assim uma verdadeira reunião de povos lusófonos que, depois, numa fase posterior possa prototipar numa escala maior, uma união de todos os povos e Estados criados pelos ibéricos por esse mundo fora e, num patamar último de Sonho e Realidade, uma União Mundial, fraterna e intrínsecamente pacífica que cesse por fim com todas as guerras e que reoriente os recursos assim desperdiçados para o Homem e para o extraordinário potencial criativo do ser humano.
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