VIDA DE MIGUEL ÂNGELO
Ed. do Autor, 1942.
– seremos animais, se pararmos no esforço de ser deuses; mais vale o sofrimento, a angústia mil vezes renovada, do que o automatismo, a inconsciência, a bruta natureza das pedras e dos bichos
– Nada importa lutar se tem de se lutar; mesmo que se não quisesse fazê-lo, impulsos interiores que existem em todos os homens impeli-los-iam para a acção; no pessimismo de Miguel Ângelo não entram nenhumas possibilidades de penetrarmos, pelo menos ainda vivos, na insensibilidade, no repouso absoluto; e a melhor acção será, naturalmente, a que se exerce para tentar dar corpo a esse ideal de uma humanidade que sofra menos ou que saiba sequer transferir o sofrimento do plano em que ele não tem interesse ou é evitável, o plano social, para o plano dos espíritos, onde será para sempre impossível apagá-lo
– a independência de alma de Miguel Ângelo, a consciência do que vale, um sentimento indomável de dignidade humana — por isso se quer bom, por isso se quer puro — uma radicada oposição a tudo que possa levar homens à posição de animais, afastando-os de Deus
– O forte individualismo de Miguel Ângelo, baseado numa inteligência superior, numa grande penetração psicológica e no seu gosto da solidão, levavam-no a não pertencer a nenhum partido; não havia nenhum credo, nem o da Igreja, que aceitasse completo
– O que importa, porém, para Miguel Ângelo, o que vale como um valor de eternidade não é a incompreensão dos homens, a resolução que os leva a tomar a sua inteligência reduzida, quantas vezes, porventura, o desespero em que andam mergulhados e que, não se lhes revelando à plena luz da consciência, ou não encontrando campo suficiente nas almas restritas, se manifesta pela má vontade, pela perpétua irritação, pelo malévolo ataque a todos que aparecem como espíritos superiores
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