Como se irá portar a nova Administração Obama no campo da Exploração do Espaço? Na sua campanha eleitoral, este tema não foi praticamente abordado, o que é compreensível tendo em conta a escala dos problemas com a Economia e com a Guerra contra o Terrorismo no Iraque e no Afeganistão.
Os atuais problemas orçamentais norte-americanos e a dimensão astronómica (um termo aqui empregue bem em contexto) de mais de 10,6 triliões de dólares significam que a NASA não pode contar com dotações generosas nos próximos anos… Isto quer dizer que o “regresso à Lua”, anunciado pelo antigo e muito impopular presidente Bush em 2004. Ou seja, o então descrito plano de reforçar a política espacial dos EUA do par Shuttle-ISS para o novo sistema Ares em dez anos e para um regresso à Lua em dezasseis poderá agora ser posto em causa. É que os 12 biliões a gastar entre 2008 e 2013 poderão simplesmente não existir, já que apenas 1 bilião vem diretamente no orçamento da NASA, o que significa que 11 biliões teriam que ser transferidos do orçamento federal (o orçamento da NASA representa hoje apenas 1% do orçamento dos EUA). Parece muito, mas logo em 2004, muitos colocaram em dúvida o realismo desta estimativa, avaliando o projeto como subavaliado. Não parece credível que os EUA se retirem do Espaço, nem que abdiquem de manter meios de lançamento de missões tripuladas autónomas. Portanto, o projeto Constellation deve sobreviver… Ainda que desprovido das verbas necessárias para o seu bom andamento. É contudo provável que a presença dos EUA na ISS seja reavaliada a partir de 2010. A ISS é um projeto muito devorador, é certo. Em 2000 estimava-se que tinha custado aos EUA já mais de 100 biliões de dólares, assim repartidos:
Concepção inicial: 10 biliões
Equipamento: 25 biliões
Lançamentos do Shuttle: 20 biliões
Manutenção: 41 biliões
Ou seja, há muito para reavaliar… O custo da ISS deveria ser reavaliado e comparado com os benefícios que dela se retiram. Por exemplo, enquanto os russos conseguiam fazer com que a Mir custasse apenas 4,3 biliões de dólares, mantendo os mesmos três tripulantes que hoje ocupam a ISS!
A anterior Administração Bush reduziu o orçamento da NASA e abriu a porta à participação de empresas privadas como a SpaceX e a Orbital em projetos federais. Havia desperdícios e anacrónicos métodos de gestão herdados dos tempos da corrida ao Espaço com os soviéticos e a abertura para a participação de empresas privadas e a necessidade de reorganização da NASA em função da redução do seu orçamento teve aspectos de racionalização que foram positivos… Assim como a definição de uma estratégia clara, de regresso à Lua e de preparação para uma viagem a Marte, foram dos aspectos de uma das mais positivas (e raras) políticas de Bush.
Ainda que tivesse definido uma estratégia – algo que falhou em Clinton – Bush contudo, embaraçado com um gigantesco défice e com despesas astronómicas com a Guerra no Iraque, Bush não alocou ao projeto Lua-Marte os fundos necessários. Desenvolver o par Ares-Orion parece impossível com os recursos atuais. Obama terá que enfrentar este problema: ou cancela o projeto Lua-Marte e os seus lançadores e veículos e optar por soluções ainda mais económicas ou reforça claramente o orçamento da Agencia para que os programas saiam do atoleiro atual. Obama poderá usar este programa federal para estimular a economia e assim manter dezenas de milhar de empregos qualificados e um vitalmente estratégico sector aeroespacial. Obama pode também optar por manter o atual baixo nível de financiamento e atrasar assim todo o plano… Optando por alimentar a ISS com cargueiros e naves tripuladas de empresas americanas no entretanto, essa opção também é provável, especialmente porque assim a NASA poderia alimentar programas científicos de maior calibre e com interesse na área do Aquecimento Global, área de especial interesse para o presidente norte-americano. Outro factor a ponderar por Obama serão os agressivos planos indianos e, sobretudo, chineses para o Espaço… Os EUA não podem tolerar que a China coloque um astronauta na Lua antes do seu próprio regresso ao satélite natural da Terra e se o atraso atual do Ares-Orion continuar, será isso mesmo que vai acontecer. Ora sendo isto algo absolutamente intolerável e tendo Obama a necessidade de criar programas ambiciosos, polarizadores e que motivem toda a nação e reinstaurem o perdido orgulho nacional eu apostaria num reforço intenso de toda a atividade espacial dos EUA por parte da nova Administração Obama. Esse é assim o meu palpite.
Fontes:
http://www.spacedaily.com/reports/Space_And_The_Obama_Administration_999.html
http://en.wikipedia.org/wiki/United_States_public_debt
http://edition.cnn.com/2004/TECH/space/01/14/bush.space/index.html
http://www.spaceprojects.com/iss/
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