Embora fosse um homem da sua época, formatado pelos padrões de normalidade e conceitos da sua época, Vieira não tinha a mesma concepção de “império” que a maioria dos seus contemporâneos defendia e aplicava. A dado ponto escreve o jesuíta: “Perde-se o Brasil, Senhor (digamo-lo em boa palavra) porque alguns ministros de Sua Majestade não vêm cá buscar o nosso bem, vêm buscar os nossos bens”. Acrescentado depois: “Muito deu em seu tempo Pernambuco, muito deu e dá hoje a Baía, e nada se logra, porque o que se tira do Brasil tira-se do Brasil; o Brasil o dá, Portugal o leva.”
Desde logo, é curioso como neste lamento pela “perda do Brasil”; Vieira assume-se em primeiro lugar como “brasileiro”, (“nossos bens”), como um “outro” a quem o Reino europeu procura perder na ânsia daqueles que lhe envia para o governar de rápidamente enriquecerem… Vieira dá neste ponto mostras do primeiro momento da erupção do sentimento nacionalista brasileiro, com este desabafo perante a atitude predatória destes ministros do Reino perante a colónia brasílica e também exprime a sua desilusão perante a persistência do Pernambuco nas mãos holandesas e perante a transformação do Brasil em mero ponto de partido de riquezas para sustentar as élites dirigentes do Império, em Lisboa. Estas expressões, e muitas outras proferidas por Vieira a favor dos direitos dos índios e dos escravos negros haveriam de granjear-lhe uma viva animosidade por parte dos colonos portugueses no Brasil.
Ao descrever a novo governador do Brasil, Dom Jorge Mascarenhas, marquês de Montalvão, a situação da guerra com os holandeses no Pernambuco, Vieira diz sobre os quatro generais que comandaram a campanha antes da chegada do marquês que “nenhum governou a guerra que a não entregasse ao seu sucessor em pior estado do que a recebera”, e a propósito daqueles militares que regressavam a Portugal e pediam benesses em nome dos seus feitos no Brasil: “Se foram verdadeiras todas as certidões dos soldados do Brasil, se aquelas rimas de façanhas em papel foram conformes a seu originais, que mais queríamos nós? Já não houvera Holanda, nem França, nem Turquia, todo o mundo fora nosso.” De novo, neste ponto, Vieira exprime a desilusão daqueles que além-Atlântico se começavam a sentir mais brasileiros que portugueses e que sentiam uma grande e crescente revolta perante a fraca qualidade dos generais que de Lisboa lhes íam enviando e que se revelavam incapazes de recuperar aos Países Baixos o terreno perdido em campanhas anteriores, e sobretudo, o rico e próspero Pernambuco.
De qualquer modo, é irónico que depois de ter consumido tanta energia e tempo a motivar os seus conterrâneos brasílicos animando-os na difícil “guerra holandesa” quando é forçado a abandonar o Brasil, pressionado pelo poderosos colonos que se reviram no famoso “Sermão de Santo António aos Peixes” (1654) e embarca num navio com destino a Lisboa quando este naufraga é recolhido precisamente por… um navio corsário holandês, que o salva e leva a bom porto, até à Graciosa, nos Açores. Ironias do destino, às quais nem Vieira estava imune…
Vieria é fantastico, desde a defesa dos homens de nação em portugal (que causou sua perseguição pela inquisição) e a idéia da companhia mercantilista aos moldes da companhia das india ocidentais, apesar de só conseguir a criação da companhia para o Brasil ela sozinha inviabilizou os lucros da propria WIC, e com altos custos ocasionado pelas constantes batalhas e poucos rendimentos do açucar causados pela companhia portuguesa tornou inviavel a manutenção do Brasil holandês.
Holanda que foi finalmente derrotada por um exercito de Indios , de brasileiros e de portugueses no monte dos guararapes.
Muito interessante! Especialmente pela crítica aos portugueses, pelo próprio contraponto que a ocupação holandesa representava.
Fred: Vieira era o melhor de todos nós e tanto brasileiro como português, no coração e no intelecto. E sim, a sua “Companhia” será ainda tema de próximo artigo, a publicar simultaneamente aqui e na Nova Águia… Adivinhaste!
Catatau: critica que infelizmente não encontrou eco em Lisboa! felizmente que os brasileiros (de várias raças) encontraram energias para se libertarem do jugo nórdico, já que Lisboa tudo fazia para negociar a paz com a Holanda em troca do abandono do Pernambuco…
Sim um ótimo tema, publiquei sobre a defesa de Vieira dos homens de nação e judeus para patrocinar a companhia. Obviamente que foi essa a causa de sua perseguição pela inquisição. Tirava os doces das bocas dos dominicanos. 🙂
Não sei se já leste, segue o link, desculpe os erros ainda estou aprendendo e quando postei esse ai era mais verde ainda 🙂
http://piratininga.wordpress.com/2008/02/07/sobre-padre-antonio-vieira-e-sua-defesa-do-reino-portugues-e-consequente-defesa-dos-judeus-e-homens-da-nacao/
é claro que li e que me lembrava, Fred.
os erros de formatação html perseguem-nos a todos, claro…
Vieira teve muitas turras com a Inquisição, alguma delas muito perigosas e das quais só se safou devido às suas ligações na Corte…
MORO NO RECIFE A 5 ANOS, E SOU NORDESTINO DE NASCIMENTO “PARAIBA MINHA TERRA” E TENHO LIDO E APREEDIDO DESDE CRIANÇAS SOBRE A GUERRA E CONQUISTA DOS HOLANDESES, E VERIFIQUE COMFORME A HISTORIA E OS LIVROS, SOBRE A HISTORIA QUE OS HOLANDESES E PORTUGUESES E FRANCESES NEGOCIAVAM COM OS INDIGENAS NA EPÓCA DO DESCOBRIMENTO,E VIVIAM EM UMA SITUAÇÃO PACIFICA,POR SECULOS COMFORME ACHADOS NA REGIÃO DA PARAIBA, E RIO GRANDE DO NORTE, E PERNAMBUCO, E VERIFIQUE QUE OS
HOLANDESES NÃO TERIA DECRETADO A GUERRA CONTRA NORDESTE DO BRASIL SE O GOVERNO PORTUGUES ESTIVESSE MANTIDO COMPOSTURA DE INDEPENDENCIA COM A ESPANHA, SEGUNDO A HISTORIA E OS FATOS OS HOLANDESES E FRANCESES,VIVIAM EM PAZ COM O POVO BRASILEIRO E QUERIA TRANSFORMA A REGIÃO NORDESTE EM LOCAL DE BOM CONVIVÍO,PARCIMONIOSO,O QUE TENHO OBSERVADO QUE NOS BRASILEIRO FIZEMOS A ESCOLHA ERRADA, FICANDO AO LADO DOS “PORTUGUESES” UM BANDO DE EGOISTA E PERDEDORES
VEMOS ISSO HOJÉ AQUIR NO BRASIL FICO DECEPCIONADO COM A CONDIÇÃO QUE O BRASIL,VIVEU E VIVE NA REGIÃO DO NORDESTE. APESAR DE MINHA FAMILIA OS (LUCENAS) TER APOIADO O GOVERNO PORTUGUES. UM GOVERNO LUSO-MEDIÓCRE.