Um dos traços mais significativos da tradição trovadoresca galaico-portuguesa é a da chamada “Coita de Amor” (ver AQUI e AQUI). Nesta, o jogral entra numa espécie de estado “possessão de Amor”, onde sublimado na sua alma pelo intenso amor por sua dama, toma para si, o desejo de morrer, de se extinguir e através da mortificação do seu corpo, alcança um novo patamar de consciência e a própria Iluminação, na vertente tão budista do termo…
” E tenho que fazen mal sén
quantos d’amor coitados son
de querer sa morte se non
houveron nunca d’amor ben,
com’eu faç’. E, senhor, por én
sempre m’eu querría viver,
e atender e atender!”
Esta morte ritual, seguida de renascimento e Iluminação está no centro de todos os rituais iniciáticos, desde Elêusis, aos ritos maçónicos modernos (por deturpados e extirpados de significado que hoje estejam). Não tenhamos assim ilusões. Esta “mia senhor” que canta e louva o Trovador não é a nobre, nem tão pouco a mulher que tem diante de si, de carne e osso, mas uma outra, bem menos perigosa de amar que aquela filha ou mulher de algum poderoso nobre galaico-português… Esta “senhora” é pois um símbolo do “Espírito Santo”, do “Amor” (tipo como apontou Centeno, a contraposição de “Roma” < “Amor”), que por via da ascese conduz à Iluminação e à ascensão a um estado de alma diferente, buscado também comunitáriamente nas festas de “Espirito Santo” patrocinadas mais tarde sob o reinado de Dom Dinis.
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