(Arquipélago de Cabo Verde in http://www.embcv.pt)
“Desde o início deste ano, este pequeno país (Cabo Verde) deixou de ser considerado um País Menos Avançado (68% dos países da África Sub Saariana fazem parte deste grupo, como todos os PALOP) para passar a ser considerado um País de Rendimento Médio, perdendo assim um certo tratamento favorável.”
Manuel Ennes Ferreira
Expresso, 5 de Janeiro de 2008
Cabo Verde cumpre assim mais um passo para alcançar um patamar de desenvolvimento raro em África. Exemplo para muitos outros países africanos, imersos em eternos conflitos étnicos e militares contra parcelas de si próprios, ou contra países vizinhos, Cabo Verde tem em relação a estes duas grandes vantagens que fazem neste contexto três importantes diferenças: pela sua condição insular não apresenta questões de fronteira: não tem aquelas imensas e inconsistentes extensões geométricas e lineares de fronteira como têm o Congo e Angola; pela inexistência de um povoamento anterior à ocupação pelos portugueses, não apresenta etnias diversas dentro de si, caracterizando-se o seu povo pela existência de uma suave mestiçagem, muito ao gosto brasileiro e dos portugueses que Quinhentos. Por fim, pela própria inexistência de riquezas naturais que despertem os apetites dos Grandes deste mundo ou que gerem apetites predatórios internos, como sucede infelizmente em Angola, ou no melhor exemplo mundial deste problema, na Nigéria.
Cabo Verde reúne assim as condições para se tornar num exemplo africano, sacudindo o grande monstro que devora África, que é a Corrupção endémica e generalizada, estrutural e estruturante, mantendo-se simultaneamente como exemplo de Paz interna e externa, num continente empobrecido e envolvido em guerras permanentes e tornar-se assim no melhor exemplo do legado português em África.
Desta forma, esta antiga colónia portuguesa reforça a crença daqueles que defendem a sua integração na União Europeia… Se há – entre os europeus do norte – quem defenda que países com quem a Europa mantêm relações de vizinhança e proximidade geográfica como o Marrocos, a Turquia e o Azerbeijão ou a Arménia… E até Israel, porque não recordar a sugestão lançada por Adriano Moreira e, mais tarde, Mário Soares em 1994, de ligar Cabo Verde aos demais arquipélagos portugueses no Atlântico. A ideia foi bem acolhida em 2004, quando foi reiterada ao governo cabo verdiano, no decorer do Simpósio Amílcar Cabral.
O artigo 49º do Tratado da União Europeia menciona que “qualquer Estado Europeu que respeite os princípios enunciados (…) pode pedir para se tornar membro da União Europeia” (ver AQUI e AQUI). Cabo Verde, não se encontra no território continental da União… Mas a bem ver, nem a Madeira, nem a impopular (mas real) candidata Turquia estão… É claro que existe uma solução clara para este dilema, que é o de acordar entre Portugal e Cabo Verde alguma espécie de “federação” ou uma forma elevada de “associação entre Estados”… Isso satisfaria as eventuais pretensões caboverdianas e o legalismo de Bruxelas… Em termos culturais, Cabo Verde, é das nações mais “europeias” de África… Em termos raciais, também, já que a mestiçagem é aqui regra, e já que muito sangue judeu e português navega pelas veias caboverdianas, consideradas durante séculos como o ninho por excelência dos administradores coloniais que Portugal espalhava pelo seu Império, de Moçambique a Timor…
Uma tal forma de associação poderia ser um primeiro passo para o nosso mais querido projecto, que é o de reestabelecer alguma forma de União política (Federação ou Confederação) com o Brasil, já que seria mais fácil – dada a dimensão do arquipélago, e os laços históricos e culturais – absorver essa União nos espíritos sempre cépticos das gentes… E por outro lado, com a existência de mais caboverdianos em Portugal do que no seu próprio país, os laços étnicos e pessoais são já muito fortes… E ninguém esquece o apoio logístico e humano que Cabo Verde cedeu à frotilha portuguesa comandada pela Vasco da Gama nas suas operações na Guiné-Bissau…
Concordaria com a adesão de Cabo Verde à União Europeia? 1) Sim 2) Não 3) Sim, mas só no âmbito de uma associação com Portugal |
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