(Um interessante mapa do mundo de acordo com as despesas militares de cada país in http://blog.joshuajmorgan.com)
A financeira Bear Sterns reportou recentemente a perda de mais de dois biliões de dólares, a sua primeira perda nos seus 84 anos de existência. A mais conservadora Morgan Stanley declarou também perdas da ordem dos 10 biliões de dólares, naquela que foi também a primeira perda de sempre da empresa, numa história de sucessos consecutivos que tinha já 74 anos… Contudo, simultaneamente, admitiu ter recebido uma injecção de capital da ordem de 5 biliões de dólares, proveniente directamente de investidores chineses. Por seu lado, o City Group – com um registo financeiro mais feliz – declarou ter recebido também um afluxo de capital do fundo de investimento estatal do Abu Dhabi da ordem de grandeza de vários biliões… Ou seja, apesar das perdas motivadas por erros graves e sucessivos de gestão, estas financeiras parecem continuar apelativas e a cativar investimentos estrangeiros. Não deixa de ser curioso que estas infusões venham precisamente dos dois locais do mundo que mais resistentes são a investimentos financeiros directos… É também curioso que estes capitais tenham afinal origem nos… próprios EUA. É que os Estados Unidos acumulam desde há décadas défices comerciais com estes países (de petróleo com o Médio Oriente e de produtos manufacturados com a China). Outrora estes países reinvestiam estes excedentes em Fundos do Tesouro americano, mas como estes só pagavam taxas moderadas, agora estão a começar a investir preferencialmente em empresas como a Morgan Stanley, que têm tido retornos mais ambiciosos (e arriscados…). É este movimento que aqui se observa. E não se trata de pequenos movimentos. Estes fundos sauditas, koweitianos, chineses, etc, têm carteiras da ordem dos triliões de dólares e o facto do dólar estar agora tão enfraquecido também os tem levado a sair dos fundos do tesouro.
Segundo as teorias clássicas, os “países imperiais” caracterizam-se por terem grandes quantidades de bens no estrangeiro. Era assim com o Reino Unido até ao final da Segunda Grande Guerra e com os EUA até recentemente, mas hoje, os EUA são financeiramente um país secundário. O poder político e económico dos EUA ainda é hoje formidável, mas começam a estabelecer-se as bases para o seu declínio… É que o poder político dos EUA assenta hoje já muito sob a expressão militar deste poder, e o custo de manter esta superioridade militar, cada vez mais distante do desempenho da Economia, começa a ser esmagador e os EUA começam a ter um exército sobredimensionado, mais caro e mais numeroso do que podem efectivamente suportar. Recolhendo uma parcela cada vez mais significativa do orçamento, o orçamento da Defesa vai acabar por se tornar o maior sorvedouro de recursos do país e precipitar uma decadência económica e social que hoje ainda só é possível antever.
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