Conversas Vadias
CD1
Entrevistado por Joaquim Letria
JL: “Nós demos mundos ao mundo (…) demos matéria-prima ao mundo, demos força de trabalho à Europa e aqueles que transformam essa matéria-prima, ajudámos a construir a riqueza dessa Europa. O que é que acha que no futuro (…) vamos dar o quê ao mundo?”
AS:
“Vamos dar ao mundo aquilo que de melhor temos. (…) ver o mundo tal qual ele é.”
“Quando falo de Europa não me refiro só aquela que vai até aos Urais. Estou-me referindo também aos Estados Unidos que é aquela Europa que vai até ao Atlântico e também referindo à classe industrial japonesa que é uma Europa instalada no Japão, tendo aproveitado do Japão a capacidade japonesa de obedecer. Porque o ideal deles é ser o menos possível, que é a coisa perfeita para entrar numa companhia.”
“No Japão havia essa esquizofrenia: metade do dia eram americanos trabalhando como americanos, a outra metade do dia era japoneses trabalhando menos do que ninguém.
JL: “Mas também são eles que mais preocupação têm com o lazer?”
AS: “Pois claro, porque eles sabem perfeitamente – porque são budistas – que a coisa vai nesse sentido. E foi por isso que não seu precisamente o ajustamento da pregação dos magníficos jesuítas portugueses que foram para lá e a gente japonesa. Os japoneses se converteriam todos ao mesmo tempo ao cristianismo se os jesuítas os deixassem ser ao mesmo tempo budista e xintu, tudo junto.”
JL: “Nós estamos perante um grande parênteses da História. Temos um passado com referências seguras e certas e à frente um futuro que não sabemos o que é que vai ser. (…) Fala-se do Fim da História. O que vem aí?”
AS: “Quando digo que o Futuro será de tal maneira, estou apenas a dar a ideia de um Presente melhorado ao máximo que eu posso imaginar. Mas nada que seja assim o Futuro. Uma coisa que hoje se pode dar como filosofia do Universo é de que há não só aquilo que nós entendemos dele, mas outras muitas maneiras de entender. É curiosíssimo que se nós juntarmos as duas palavras com que podemos designar um certo objecto das nossas atenções podemos chamar ou Universo ou Mundo. Num Universo, a palavra indica que todas as coisas estão ali juntas, é dos vários lados um movimento para o centro, para o Universo. E Mundo, que todos tomamos como substantivo é efectivamente um adjectivo. Mundo significa “limpo”. Camões fala nas “mundas almas”, as almas que podem ir para o Paraíso Eterno, as “almas limpas”. Então o que é o Mundo diferente do Universo? O Mundo chamamos nós aquilo que entendemos do Universo. Como se considerássemos o outro exactamente o antónimo da palavra Mundo, isto é, Imundo.”
“Talvez a certa altura surja no mundo alguma coisa de diferente e que se possa rir das ideias que nós tivemos do Futuro.”
“Ver o Futuro, não como uma coisa que muita gente vê como impossível de realizar, mas como uma coisa possibilíssima de ultrapassar de tal maneira que nós nem a pudéssemos entender. Há maneiras variadíssimas de ver o mundo. Há coisas por exemplo na matemática que estão fora da nossa dimensão real.
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