Conversas Vadias
CD1
Entrevista com Joaquim Letria – Parte 1
Instruir,Educar,Reformados,Camões e Pessoa
“Deve-se fazer uma grande diferença entre Instruir e Educar. Instruir é um parente do verbo construir. Nós vamos dando tijolo na medida em que é possível instruir alguma coisa de forma a que ele vá fazendo o edifício à sua vontade. E também não é por acaso que a palavra aluno é uma participação dum verbo que se deixou de empregar e que significa alimentar, o aluno é “aquele que nós alimentamos”. A origem da palavra “alimentar” e “aluno” é exactamente a mesma. E o outro é “instruir”, educar já tem um elemento que significa conduzir e até reduzir. Quando educamos não estamos a dar tudo para que ele possa construir um edifício a seu gosto, mas a reduzir o que ele era para ele viver na nossa Sociedade. A única é fazer uma outra. Estamos numa Sociedade que tem determinadas características, e evidentemente o que temos que fazer é fazer de tal maneira com que ele não fique um estranho nessa sociedade.
“Porque é que os reformados morrem tão fácilmente? Porque quando deixam de ser o trabalhador de um determinado sector, eles apenas têm para viver a recordação disso. Cai sobre eles o tempo livre que é a carga mais pesada que alguém pode ter na sua vida e definharem melacólicamente tomando um cafézinho triste.”
“É preciso que um menino que nasce hoje, cumprir uma determinada profissão, realizar uma determinada profissão. Por outro lado, temos que olhar para o Futuro, para que quando o menino ficar reformado, ou desempregado ou reformado antes de tempo, como agora há tanta pessoa. Se é um poeta, um músico deve ter a possibilidade de exprimir dessa maneira. (…) Deixar para nós a capacidade de criar uma coisa que ainda ninguém tinha criado no Mundo. Então temos que ser ao mesmo tempo, soldados e poetas. Camões andou nisso e vários portugueses andaram nisso e se deram muito bem: a Guerra ou a ocupação de algum local e a poesia.
“No Camões encontramos vestígios de Aristóteles e vestígios de Platão. Eu costumo dizer que quando ele estava seguro de si ía para Aristótles, quando não, lá se escapava para Platão.”
“A única carta importante de Fernando Pessoa a Ofélia é a do rompimento, quando ele viu que naquele jogo tinha atingido uma pessoa viva.
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