Lisboa, sexta-feira, 4 de Janeiro de 2008
Comunicado: “A.S.O. anula edição 2008 do Rali Dakar”
“Após inúmeros contactos com o governo francês – em particular o Ministério dos Negócios Estrangeiros – e tendo em conta as suas fortes recomendações, os organizadores do Dakar tomaram a decisão de anular a edição 2008 da prova, que deveria decorrer entre 5 e 20 do corrente mês, ligando Lisboa à capital do Senegal.
Tendo em conta as actuais situações de tensão politica, a nível internacional, o assassinato de quatro turistas franceses, no passado dia 24 de Dezembro, atribuído a um ramo do Al-Qaida, no Magreb islâmico, e acima de tudo as ameaças, directas, lançadas contra a prova, por movimentos terroristas, a A.S.O. não pode tomar outra decisão que não seja a anulação da prova.
A primeira responsabilidade da A.S.O. é a de garantir a segurança de todos: populações dos países atravessados, concorrentes amadores e profissionais, sejam eles franceses ou estrangeiros, elementos da assistência técnica, jornalistas, patrocinadores e colaboradores do rali. A A.S.O. reafirma que as questões de segurança não estão, não estiveram, nem nunca estarão em causa no rali Dakar.
A A.S.O. condena a ameaça terrorista que anula um ano de trabalho, de inscrições e de paixão para todos os participantes e diferentes actores do maior rali-raid do mundo. Consciente da imensa frustração, vivida, em particular, em Portugal, Marrocos, Mauritânia e Senegal, bem como entre todos os nossos fiéis parceiros, para lá da decepção geral e das pesadas consequência económicas, em termos de retorno directo e indirecto, para os países atravessados, a A.S.O. continuará a defender os valores que caracterizam os grandes acontecimentos desportivos e prosseguirá com a mesma determinação o desenvolvimento das suas acções humanitárias, através das Actions Dakar, implantadas depois de cinco anos em África sub-saariana com SOS Sahel Internacional.
O Dakar é um símbolo e nada pode destruir os símbolos. A anulação da edição 2008 não coloca em causa o futuro do Dakar. Propor, em 2009, uma nova aventura a todos os amantes dos rali-raid é um desafio que a A.S.O. irá assumir nos próximos meses, fiel à sua presença e paixão pelo desporto.”
Ou seja, por “inúmeros contactos” deve ler-se “inúmeras pressões” francesas, mas se estas existiram e se a França sente que havia uma ameaça contra os seus nacionais porque não se limitou a recomendar ou a impedir os seus nacionais de participarem na prova? Porque insistir num cancelamento que vai prejudicar de forma tão gravosa alguns dos países mais pobres de África (Mauritânia e Marrocos) e até todos os investimentos que as câmaras municipais portugueses percorridas pelo percurso do rali já fizeram? (ver AQUI) a própria organização da prova reconhece essa possibilidade de pesados impactos financeiros pesados… (ver AQUI): “pesadas consequência económicas” e logo… vai indemnizar ou mandar a factura para França?
As relações entre a França e a Mauritânia estão tensas desde a morte de quatro turistas franceses em Dezembro de 2007 (ver AQUI e AQUI), mas logo os primeiros relatos mencionavam que o grupo francês tinha sido parado na estrada por três homens armados de AK-47 que lhes tinham pedido dinheiro (segundo o testemunho de um sobrevivente). O ataque ocorreu depois de os assaltantes terem seguido os turistas após estes terem levantado 50 euros num banco local e quando os assaltantes lhes pediram esse dinheiro responderam que não tinham, abrindo então fogo:
“They demanded money, and were told that there was none. They opened fire.”
Os cancelamentos de viagens turísticas para a Mauritânia já estão a provocar grandes problemas nas comunidades locais que dependiam desses turistas e embora o próprio governo mauritano esteja a investigar a possibilidade de ligação do ataque à Al Qaeda e, nomeadamente ao dito “Grupo Salafita” argelino liderado supostamente por Mohamed Elmoustapha Ould Abdel Kade estes indícios apontam para um crime comum, infelizmente muito frequente nestas paragens do mundo… grave, mas não ligado necessariamente a actividade terroristas ou à elusiva Al Qaeda…
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