(http://www.worcestershire.gov.uk)
Sabe-se que é praticamente impossível o comportamento de um ser humano, individualmente considerado… A imensa profundidade e complexidade psicológica de cada um de nós torna essa tarefa impossível. E é precisamente esta imprevisibilidade que está na raíz da crónica incapacidade das Ciências Sociais e da Economia para conseguirem cumprir a mais verdadeira missão de qualquer Ciência que é a de… serem capazes de estabelecer (e acertarem) em previsões.
A Economia baseia-se na tese de que os indíviduos são sempre racionais e muito egoístas e é com base nestes dois pressupostos que se construiram muitas teorias económicas e matemáticas que, infelizmente, nada têm a ver com a Realidade e não conseguem explicar porque é que os Mercados se comportam de uma dada forma, ou não…
Nos últimos 15 anos tem havido uma revolução silenciosa nas Ciências Sociais. Várias equipas de economistas e sociólogos, um pouco por todo o mundo têm realizado experiências com pessoas reais (não mais com simulações virtuais), em laboratório, em que colocam vários pessoas numa sala e simulam aqui a presença de um “Mercado de Valores”. Concluiu-se que os sujeitos da experiência cometiam erros, ouviam palpites, mas não racionalizavam e tinham frequentes reacções e decisões completamente irracionais e emocionais…
Mas se assim é, se na base das decisões com impacto financeiro, a Razão não tem parte maioritária ou decisiva, como se pode assim prever o comportamento de grandes grupos, isto é, da Economia na escala nacional ou global? Na Física, essas previsões são comuns. As moléculas individuais são muito imprevisíveis, mas agrupadas podemos prever o seu comportamento. Por exemplo, é impossível antecipar todos os movimentos que uma molécula de água terá dentro de um copo cheio de água, mas não é difícil prever que o copo não transbordará se ninguém lhe mexer… Assim sendo, haverão também padrões comuns nas flutuações dos diversos Mercados de Valores em todo o mundo, transversais a realidades culturais, económicas e religiosas muito diversas? Na teoria económica clássica, o valor de uma dada Acção nunca poderia estar inflaccionado, porque o Mercado era formado por “pessoas racionais” que nunca sobrevalorizariam uma Acção, mas agora sabemos que tal coisa “pessoas racionais” é um mito urbano… Que não existe… Nenhuma teoria económica consegue explicar quedas abruptas de mais de 20% num único dia, e estas não são propriamente raras nos Mercados… De facto, os Mercados são sujeitos a maiores flutuações num único dia do que qualquer sistema natural equivalente.
Estudos recentes, realizados em Oxford, indicam que é possivel elaborar modelos simples, usando pessoas reais e não simulações de computador em que se observa uma tendência natural para que o sistema evolva para um estado estável (identificado também pelos biólogos evolucionistas) em que os individuos tendem para com dinheiro e as mesmas indicações de partida, tenderão a cooperar, precisamente onde a teoria clássica previa que competiriam, esmagados pelo impulso atávico do egoísmo e da racionalidade…
De onde vem então esta tendência para a cooperação? Talvez a possamos encontrar no nosso passado mais distante… Quando o mundo era totalmente diferente daquilo que é hoje, um mundo onde afinal viveu o Homem durante 99,9% da sua existência sobre a Terra. Um mundo em que o Homem se agrupava em pequenas comunidades de 10 a 25 pessoas, e onde a cooperação intra-grupal era regra essencial de sobrevivência… Ainda hoje, somos incapazes de termos mais do 20/25 pessoas nas nossas relações mais directas, embora possamos conhecer centenas de pessoas de cada vez… Da tendência para estabelecer estratégias cooperativas de caça e recolecção.
Fonte: Podcast de Outubro de 2007 do The Guardian Unlimited
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